Abjecta hipocrisia

Filipe Diniz

O eurodeputado do PSD Paulo Rangel foi à Colômbia participar nas provocações contra a Venezuela do passado fim-de-semana: «Tudo o que o PPE, o Parlamento Europeu e eu próprio, enquanto dirigente da maior família política da União Europeia, puder fazer para levar novamente a democracia e a prosperidade ao povo venezuelano, farei sem hesitar um segundo.»

O mesmo Rangel saudou (Público, 10.12.2013) o «golpe da Praça Maidan» em Kiev: «centenas de milhar de pessoas arriscam a vida, a integridade física e a liberdade para se juntarem à Europa – à União Europeia – e aos valores que ela representa». Sublinhou que essa «europeização» da Ucrânia implicaria a «adopção de um modelo de liberdades e garantias – designadamente, em sede de possibilidade de contestação e de oposição».

Se na altura era já inteiramente claro que tais protestos – dirigidos pelos EUA – eram encabeçados pelos neonazis do Sector Direito e Svoboda, ainda ficou mais claro depois. As «liberdades e garantias» e os «valores da UE» traduziram-se num poder de Estado onde pontificam fascistas, na ilegalização, repressão e até massacre de opositores, na integração das milícias fascistas no exército ucraniano, na completa subordinação da Ucrânia à irresponsável estratégia agressiva dos EUA/NATO. Aí Rangel já não teve nada a dizer.

Disse-se apreensivo face à ideologia de Bolsonaro mas esteve politicamente ao seu lado na fronteira venezuelana. Ao lado de outro personagem de extrema-direita que a UE reconheceu presidente da Venezuela. Sabe que, se saísse vitorioso o golpe que apadrinha, a «democracia e prosperidade» que aí diz defender seriam de qualidade semelhante às da Ucrânia. Mas para esta gente os fins justificam tudo, incluindo a mais abjecta hipocrisia.




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