Do verbo colaborar

João Frazão

Um interessante trabalho, publicado no Dinheiro Vivo, dá conta de que os 10 portugueses mais ricos, que têm um património acumulado de 14 mil milhões de euros, empregam 65 mil pessoas. Ficamos a saber que os que detêm cerca de 7% do PIB nacional, apenas dão trabalho a 1,3% dos 4 milhões de trabalhadores por conta de outrem em Portugal.

Diz o artigo que uma parte da sua riqueza vem do estrangeiro. Mas foi aqui que amealharam a fortuna que lhes permitiu internacionalizar-se. E foi a partir da exploração da mais valia produzida por estes 65 mil trabalhadores (ou de outros) que esta brutal concentração de riqueza se deu.

Repare-se que os 65 mil trabalhadores destes 10 mais ricos de Portugal teriam que trabalhar 15 anos, a ganhar mil euros por mês, 14 meses por ano, para perfazerem a riqueza que os seus empregadores (como é uso dizer-se) agora detêm. Se fossem só dez trabalhadores, a ganhar os mil euros por mês, precisariam de 100 mil anos para lá chegarem. Basta fazer as contas.

Não deixa de ser sintomático que, em todo o artigo, utilizando uma linguagem moderna, a jornalista se refira a estas 65 mil pessoas como «colaboradores».

Faz sentido. Os operários corticeiros colaboram, ao preço, não dos tais mil euros que referimos acima, mas de menos de 800 euros mensais, para que o Grupo Amorim apresente a fabulosa fortuna de 4 mil milhões de euros. As funcionárias dos supermercados Pingo Doce, colaboram, na sua maior parte, ao preço do Salário Mínimo Nacional, ou metade disso nos casos de tempos parciais, para que o grupo Jerónimo Martins se abotoe com 3 mil e 400 milhões. Salário Mínimo Nacional que é também o incentivo para os cordoeiros da Cotesi colaborarem com a Família Violas e o seu ajuntar de quase 900 milhões.

É assim. Eu colaboro, tu colaboras, ele amealham.

 



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