Ideais de Abril transbordaram praças, avenidas e ruas do País

ABRIL Homens, mulheres e jovens de dezenas e dezenas de pontos de norte a sul de Portugal assinalaram a Revolução dos Cravos das formas mais distintas.

As comemorações decorreram em todo o País e assumiram expressões diversas

Foi assim em Viana do Castelo e no Seixal, em Manteigas e Mourão, em Grândola e Matosinhos, no Barreiro e em Estremoz, em S. Pedro da Cova e em Celorico da Beira, e por aqui nos ficamos para não nos alongarmos em referências topográficas.

Essa expressão de respeito e admiração pelos homens que fizeram Abril, muitos deles bem antes de 1974, assumiram os mais diversos contornos, como distribuição de cravos vermelhos, provas desportivas, inauguração de espaços sociais, almoços-convívio, concertos musicais e outros, lançamento de livros, colóquios e conferências. Os milhares de participantes em todas essas iniciativas saudaram as conquistas de Abril, mas lembraram também as injustiças que continuam a marcar, em todos os domínios, a sociedade em que vivem e reivindicaram a materialização plena de promessas que nunca foram cumpridas.

Um mar de gente em Lisboa

Um mar de gente fez transbordar a Avenida da Liberdade, entre o Marquês do Pombal e o Rossio, em homenagem aos destemidos capitães de Abril, em memória de um data querida ao povo português, que não pode ser apagada da História, e reivindicando o muito que está por concretizar do programa da Revolução.

Duas chaimites, carros de combate utilizados na madrugada de 25 de Abril de 1974 pelos militares revolucionários, abriram o desfile, como já vem sendo habitual. Logo atrás, representantes de várias estruturas políticas, entre eles Jerónimo de Sousa, Secretário-geral do PCP, João Ferreira, cabeça de lista da CDU às eleições para o Parlamento Europeu (PE), Heloísa Apolónia, do PEV, dirigentes sindicais e activistas de movimentos sociais e populares.

Quando se tem a juventude,
tem-se o futuro

Abordado pela comunicação social, num momento do desfile, Jerónimo de Sousa aproveitou para chamar a atenção de que «não se trata de uma romaria, de uma manifestação saudosista», mas sim «daquilo que continuam a ser os valores de Abril, de liberdade, de democracia, direitos sociais e de combate às desigualdades». E referindo-se ainda à manifestação: «Por isso, tem esta particularidade, 45 anos depois, como é que tanto jovem, tanta gente nova que nem sequer era nascida no 25 de Abril, aqui está identificando-se com essas grandes aspirações, com essa realidade que Abril trouxe ao nosso país? Quando se tem a juventude, tem-se o futuro».

Na afloração da questão da Saúde, Jerónimo frisou que a «defesa do SNS geral, universal e gratuito é uma batalha que tem a ver com todas as gerações», bem como a «necessidade de acabar com as PPP ou de negociar os processos em curso, mas revertendo-as para o sector público, para o SNS. Esta é, também, uma conquista de Abril».

Os passeios, de um e outro lado, estavam também apinhados de gente que, aqui e ali, empunhava cartazes dando conta das suas esperanças ou de promessas que há muito gostariam de ter visto satisfeitas. Viam-se famílias inteiras descendo a avenida, cravos vermelhos ao peito ou seguros nas mãos, empurrando carrinhos de bebé. Ninguém podia ficar em casa.

Estrangeiros, certamente turistas, meio espantados por terem sido apanhados de surpresa numa onda de entusiasmo e alegria, procuravam fazer coro com «Gândola, Vila Morena» e integrar-se num qualquer sector do desfile.

A presença de muita gente nova foi uma nota marcante do desfile. «CDU – o voto que faz barulho» foi a palavra-de-ordem que os jovens da JCP escolheram para estamparem numa faixa. «Lutar, lutar para salários aumentar!» lia-se numa outra. O espírito reivindicativo ou de firme convicção nos princípios revolucionários e progressistas ressaltava nos coros espontâneos que se formavam para gritar em uníssono «Fascismo nunca mais, 25 de Abril sempre!» ou «Abril está na rua, a luta continua». Tarjas, levantadas alto, proclamavam: «O 25 de Abril não morreu, nem morrerá. Não às PPP (Parcerias Públicas Privadas)», «A banca escraviza», «Propinas zero» ou «Salários justos».

Já no Rossio, onde terminou o desfile, foi lido um texto assinado por diversas estruturas sindicais, políticas, associativas e por personalidades independentes. Nele se denuncia as «graves ofensivas, ao nível da precarização do trabalho», bem como os «ataques aos serviços públicos e às funções socais do Estado». Os subscritores realçam que, no «momento em que na Europa e no mundo estão a surgir perigosos movimentos de cariz neofascista, as comemorações dos 45 anos de Abril devem também ser um movimento de afirmação dos valores da cooperação, paz e solidariedade».

No Porto houve chuva com lágrimas

O desfile no Porto partiu do Largo Soares dos Reis, a dois passos da antiga sede da PIDE, em direcção à Avenida dos Aliados. Mas, pelo caminho, sobre ele abateu-se uma forte carga d’água, que obrigou muitos dos manifestantes, sobretudo os que estavam à espera junto do palco, a procurar refúgio em paragens de autocarro, cafés e toldos de casas comerciais. «Mas não desertaram e as lágrimas misturaram-se com a chuva na hora de cantar “Grândola, Vila Morena”», refere um jornal portuense.

Mesmo completamente encharcados, os manifestante fizeram soar palavras de ordem de Abril e dançaram ao som de música tradicional, com a Chulada da Ponte Velha e a Ronda dos Quatro Caminhos.

Como na capital, também aqui houve turistas que se misturaram com o povo, quando souberam que se estava a celebrar a liberdade.






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