Mais justiça fiscal para fazer o que o País precisa!

Vasco Cardoso (Membro da Comissão Política)

Temos denunciado o enorme embuste que constitui a tese do aumento da «carga fiscal» a que PSD e CDS têm recorrido para não só branquear a política de direita como abrir caminho a novas reduções de impostos sobre o grande capital.

Portugal mantém uma matriz fiscal injusta que penaliza quem trabalha

Na verdade, apesar das resistências do PS, foi possível aliviar a tributação sobre os rendimentos do trabalho (IRS), avançar na tributação do grande capital (aumento da derrama estadual, Adicional ao IMI, etc.), melhorar a situação das PME (IVA a 13% na restauração, eliminação do Pagamento Especial por Conta). Se nos últimos anos aumentaram as receitas fiscais, tal deve-se não ao agravamento de impostos – com excepção do ISP nos combustíveis – mas a um melhor desempenho da economia e à criação de emprego, na sequência das medidas de reposição de rendimentos e direitos.

Mas estes avanços não alteraram uma matriz fiscal estruturalmente injusta e que não encontra resposta nas opções de PS, PSD e CDS.

Os impostos, além do objectivo de financiamento do Orçamento do Estado (OE) e das suas escolhas, desempenham também uma função redistributiva. Nas últimas décadas, essa função tem sido contrariada por uma política fiscal de favorecimento dos grandes rendimentos, dos grandes patrimónios e dos grandes lucros. É preciso outra política fiscal, que, assegurando o adequado financiamento das funções do Estado, rompa com este favorecimento e, ao mesmo tempo, alivie os trabalhadores e o povo.

Uma das marcas de uma política fiscal injusta é o excessivo peso dos impostos indirectos, que não têm em conta o rendimento, nem o património, dos contribuintes. Uma nova política fiscal passará necessariamente pela diminuição dos impostos indirectos, deslocando gradualmente a carga fiscal para os impostos directos sobre o rendimento e sobre o património.*

A questão do IVA é exemplificativa, na medida em que, em termos relativos, atinge sobretudo as camadas sociais de menores rendimentos. Em 2002, a taxa normal do IVA passou de 17 para 19%; três anos depois registou um novo aumento, para 21%; em 2011, saltou para 23%.

Uma diminuição da taxa normal do IVA para níveis mais adequados implicaria uma redução da receita, a qual, para não pôr em causa a capacidade de o Estado exercer as suas funções, deve ser compensada com o aumento, também significativo, da receita de impostos directos (IRS e IRC). Mas este aumento não poderá ser alcançado, como fizeram anteriores governos de PS, PSD e CDS, por via da oneração fiscal dos trabalhadores (no caso do IRS), ou dos PME (no caso do IRC), mas com uma tributação mais adequada sobre os grandes rendimentos. Ganha particular importância a exigência do englobamento obrigatório de todos os tipos de rendimento, incluindo os de capital e prediais em sede de IRS (não faz sentido penalizar mais os rendimentos do trabalho do que estes, como acontece actualmente).

Da mesma forma é preciso avançar, em sede de IRC, com a elevação da taxa de imposto para as grandes empresas, por via do aumento da derrama estadual para os lucros mais elevados, bem como no combate ao planeamento fiscal agressivo e o recurso a paraísos fiscais, amplamente utilizado por estas empresas para se furtarem ao pagamento, e por via da eliminação de generosos benefícios fiscais.

Uma política fiscal mais justa requer também a tributação do património imobiliário e mobiliário. O sistema fiscal português tem uma lacuna grave: ausência de um imposto directo sobre o património mobiliário, incidindo sobre as participações de capital nas empresas (quotas e acções) e títulos financeiros como poupanças, títulos de dívida privada e instrumentos financeiros associados à especulação. O caminho para uma política fiscal mais justa é também o caminho para uma maior capacidade do Estado para responder às suas obrigações e para uma mais justa repartição da riqueza no nosso País. É esse o caminho que queremos construir.

* O Orçamento do Estado para 2019 prevê uma receita de impostos indirectos de 25 950 milhões de euros, enquanto para os impostos directos está prevista uma receita de 19 700 milhões de euros




Mais artigos de: Opinião

A emboscada

A emboscada feita pelo Fisco numa rotunda de Valongo com patrocínio da GNR (que mandava parar as viaturas) está longe de ficar esclarecida, apesar do inquérito levantado, da proibição de actos semelhantes pelo ministro Centeno e decorrente «aceitação imediata» da demissão do responsável das Finanças do Porto, presuntivo...

Zangam-se as comadres...

Os EUA detêm quase 40% do milionário mercado mundial de exportações de armamento que, segundo dados do próprio Departamento de Estado norte-americano, estará avaliado em 150 mil milhões de euros ao ano. Segundo dados de um relatório do Governo francês, divulgado na passada terça-feira, em 2018 as exportações de armamento...

«O Estado é bem-vindo no capital dos CTT»

O Estado gere mal, é ineficiente, tem clientelas. O Estado falha dia, noite e nos intervalos. O Estado estraga tudo onde se mete e devia deixar a sociedade civil e a iniciativa privada tratarem dos negócios. O Estado deve regular, de preferência o mínimo possível.

Já todos ouvimos concepções destas e as suas diversas declinações, a propósito dos serviços públicos, do sector empresarial do Estado ou das privatizações, apresentadas como ciência inquestionável.

É por isso que é deliciosamente irónica a entrevista de Manuel Champalimaud, presidente do grupo empresarial com o mesmo nome e principal accionista dos CTT, a quem o Expresso do passado fim de semana deu o título que encima este Actual.

«O Estado», diz Champalimaud, «podia ser um accionista como qualquer outro (...) estando no conselho perceberia as dificuldades de gerir uma operação como esta e teria de ter uma atitude consentânea. (...) A vantagem (...) seria a transparência e a criação de condições económicas para a subsistência da operação. Porque de duas uma: ou não querem perder dinheiro – neste caso dos contribuintes – e preocupam-se, como qualquer outro accionista, em ter uma gestão do negócio sã, ou, se só olharem para o lado do consumidor, têm de criar apoios e assumir que é um custo que querem suportar.»

Não é maravilhoso? Afinal, o tal Estado gordo e metediço serviria muito bem para «a subsistência da operação» de Champalimaud, desde que continuasse o capital a mandar e o Estado se limitasse a injectar dinheiro. Agora que estão à vista de todos as consequências desastrosas da privatização, ei-los a clamar pela intervenção do Estado.

A solução de enterrar dinheiro público em empresas privadas está mais do que testada. Não serve, é errada, não se deve repetir. O que é necessário é recuperar o controlo público dos CTT, salvar a empresa, o serviço público postal público e universal e os postos de trabalho.

 

O jeitinho

Vocês podiam dar um jeitinho, dizem-nos alguns amigos bem intencionados, justamente preocupados com os resultados eleitorais do PCP e da CDU, reconhecendo justamente que – em parte – eles se devem à violenta campanha mediática contra o Partido e de distorção da realidade. Quando tentamos perceber o que seria esse...

Fascismo económico

A deterioração da relação entre os EUA e a China continua a marcar a situação internacional, acrescentando incerteza e pessimismo às perspectivas da economia mundial, confrontada com a probabilidade de uma nova recessão. Mais de um ano de negociações entre os dois países não estancaram a progressão da guerra comercial,...