Perigoso

Henrique Custódio

Em Portland, nos EUA, um grupo de extrema-direita autodenominado proud boys («rapazes orgulhosos») fez uma marcha de apoio a Donald Trump, a que se opuseram grupos de extrema-esquerda organizados sob a sigla Antifa. A polícia fechou ruas e atacou em força, do que resultaram 13 detidos e 6 feridos, não sendo especificado de que lado estavam as vítimas.

Os grupos de extrema-esquerda classificaram a marcha do grupo proud boys como uma marcha de ódio e, surpreendentemente (ou talvez não), quem respondeu foi o próprio Presidente Trump. A dizer o quê?

A «avisar» os manifestantes da Antifa que «corriam o risco» de ser considerados uma «organização terrorista»…

O descaramento deste homem já ultrapassou todos os limites. Usando a presidência dos EUA em estilo declaradamente ditatorial – os anteriores presidentes já o haviam feito, mas este assume-o abertamente -, Trump não se contenta em comandar o vasto território do país, quer também dominar o mundo a que, se ainda não chamou de «espaço vital», é apenas porque não lhe pareceu atempado.

Os sinais vindos desta presidência dos EUA acumulam inquietações a cada dia que passa. O homem inventou e impôs uma imbecilidade como as fake news, o que desconjuntou a famosa «imprensa liberal» dos EUA e desorganizou a escala ética em uso na comunicação jornalística, já com contaminações internacionais.

Em suma, Trump quer impor a ideia de que nenhuma informação é fiável, a não ser a que lhe agrada ou ele produz. Isto é sombriamente decalcado do nazi-fascismo, onde a propaganda substituiu a Informação e esta foi manietada através da censura.

Ameaçar movimentos antifascistas com o rótulo de «terroristas» por se oporem a neonazis da «supremacia branca», enquanto deixa florescer e marchar alegremente esses mesmos neonazis, é um comportamento demasiado parecido com as tácticas hitlerianas de aterrorizar pela violência de Estado quem se lhes opusesse ou delas discordasse. E essa evidência não pode ser escamoteada ou diluída nas rotinas do quotidiano.

A guerra dos mercados é sempre rastilho para o deflagrar das guerras imperialistas e, desta vez, o protagonista da actual «guerra dos mercados» é o presidente Trump, no seu confronto com a China, precedido por ofensivas comerciais contra a União Europeia e o Japão. Lentamente, numa aparente aleatoriedade, a presidência Trump vai espalhando a desagregação do status quo capitalista, rompendo compromissos comerciais ou iniciando conflitos com a União Europeia e o Japão, acusando os velhos parceiros de estarem a «explorar» os EUA e, cereja no topo do bolo, lançando uma escalada conflitual com o seu grande adversário económico, a China.

No estertor do império norte-americano, surge este homem perigoso.




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