Uma nova página na Guiné-Bissau
A República da Guiné-Bissau assinalou 46 anos de existência em ambiente de campanha, tendo em vista as próximas eleições presidenciais.
Foi a 24 de Setembro de 1973, ainda em plena luta armada de libertação nacional, que o PAIGC (Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde), proclamou o nascimento do Estado da Guiné-Bissau. Momento culminante da brilhante gesta popular pela emancipação nacional e social guineense e cabo-verdiana que, com outros combates, contribuiu para a derrota do colonialismo português em África após o eclodir da Revolução de Abril e o derrubamento do fascismo em Portugal.
No processo de construção do Estado nacional guineense, estas quatro décadas e meia de independência têm sido marcadas por golpes e conflitos, por instabilidade política e pela persistência de flagelos como o narcotráfico e a corrupção.
Ainda há dias, o presidente da República, José Mário Vaz, num discurso sobre o 46.º aniversário da independência, dizia que não pode haver espaço no país para narcotraficantes e cúmplices. Referia-se à apreensão pela polícia guineense, no início deste mês, de quase duas toneladas de cocaína, depois de terem sido apreendidos, em Março, 800 quilos de droga.
Preocupante é a situação económica, muito dependente da cooperação internacional e da «ajuda» de organizações como o Fundo Monetário Internacional (FMI). Neste momento, encontram-se em Bissau duas missões do FMI – uma para «trocar impressões» com o governo do primeiro-ministro Aristides Gomes sobre o orçamento do Estado para 2020 e outra para avaliar as «vulnerabilidades da governação», em especial a corrupção.
Com estes e outros problemas, a Guiné-Bissau prepara-se para as eleições presidenciais marcadas para 24 de Novembro. A campanha eleitoral decorre de 1 a 22 desse mês e, se houver necessidade, a segunda volta realiza-se a 29 de Dezembro.
Os principais candidatos são José Mário Vaz, que se apresenta como «independente» a um segundo mandato; Nuno Nabian, dirigente da Assembleia do Povo Unido-Partido Social Democrata da Guiné-Bissau (APU-PDGB), apoiado pelo Partido da Renovação Social (PRS), a terceira força mais votada nas legislativas; Umaro Sissoco Embaló, antigo primeiro-ministro, suportado pelo Movimento para a Alternância Democrática (Madem-G15), que propõe a «refundação do Estado»; e Domingos Simões Pereira, líder do PAIGC, partido que venceu as recentes eleições parlamentares.
Ao entregar no Supremo Tribunal de Justiça, na semana passada, o processo de candidatura, Domingos Simões Pereira mostrou-se confiante. Depois de uma viagem pelo interior da Guiné-Bissau, está satisfeito com a «resposta» das populações: «Em todos os pontos por onde passei falei com pessoas humildes, pessoas que sofrem, falei com mulheres que não conseguem mandar os filhos para a escola, falei com gente que passa fome, falei com gente que fica ao sol para poder vender o pouco que tem para sustentar a família. Com todos eles comprometi-me ser um presidente que os represente».
Consciente das responsabilidades históricas do PAIGC, o seu principal dirigente promete ser a voz dos desfavorecidos e estar disponível para construir com todos um país diferente, «em que todos os guineenses serão convocados para juntos abrirmos uma nova página».