- Nº 2394 (2019/10/17)
17 Outubro – Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza

Combater as causas. Concretizar as soluções

Em Foco

DESIGUALDADES Vai acontecer de novo. Artigos de opinião mais ou menos desenvolvidos, declarações com grande solenidade e aparentemente sentidas, debates, conferências e até seminários de dia inteiro, com a participação de dezenas de «especialistas».

LUSA


É de admitir ainda que o Governo faça a proclamação do costume e diga que desta vez é que é. E anuncie mais umas medidas da família do assistencialismo que ocupam noticiários durante longos dias por altura da época natalícia, quando a hipocrisia anda à solta, tipo comprimidos que aliviam a dor mas não curam a doença.

E no final, depois de muita retórica, muita escrita e repetidas reflexões, vamos ficar com a sensação de que têm tanta pena dos pobres que até têm medo que eles acabem. E naquilo que é estruturante para erradicar a pobreza, tudo vai ficar na mesma porque, com muito raras exceções, não vão falar das causas para fugirem da questão de fundo: a principal causa da pobreza é o carácter explorador, desumano, opressor e profundamente injusto do sistema capitalista que nos governa há décadas, através dos governos do PS, do PSD e do CDS. Sistema que não querem colocar em causa.

Sim, porque a pobreza não resulta de uma qualquer maldição divina que castiga o povo português por se ter portado mal. Foram homens e mulheres, membros de governos que, de forma consciente e assumida, tomaram as decisões políticas que nos trouxeram a este atentado contra os direitos humanos em que àqueles que produzem a riqueza do País é-lhes vedado o acesso à mesma.

As causas são os baixos salários e as baixas pensões e reformas. É o desemprego, a precariedade e a injusta carga fiscal, que reduzem drasticamente o rendimento das famílias. É o agravamento da exploração dos trabalhadores, com a transferência directa dos rendimentos do trabalho para o capital através da estagnação ou reduzido aumento do valor dos salários, do aumento do horário de trabalho, do não pagamento do trabalho extraordinário, entre outros.

É o próprio INE que o afirma quando nos seus últimos relatórios considera que centenas de milhares de assalariados não saem da situação de pobreza porque ganham o salário mínimo que, como sabemos, é baixíssimo.

Factos reveladores

Dois factos ajudam de forma clara a entender que esta discussão não é séria. O primeiro. Em 2008, a Assembleia da República aprovou por unanimidade duas importantes resoluções que consideram a pobreza como uma violação dos direitos humanos e exigem dos governos a implementação de políticas concretas para a eliminação da pobreza, numa clara valorização da pessoa humana e da sua vida com dignidade e permitindo-lhe o acesso a uma vida feliz.

Pois bem, entre 2009 e 2014, a pobreza cresceu de tal forma que atingiu perto de três milhões de portugueses. Ainda segundo o INE, apesar dos avanços verificados nos últimos quatro anos, Portugal está confrontado com uma elevada taxa de pobreza. Em 2018, a pobreza atingia 21,6 por cento da população – cerca de dois milhões e 100 mil portugueses. A grande maioria são trabalhadores com baixos salários ou no desemprego e reformados cujas pensões médias são baixas. Destes, 600 mil (6 por cento da população) vive em privação severa, sem condições para responder a necessidades económicas básicas.

São famílias, homens, mulheres e crianças, a quem o mais vil atentado contra os direitos humanos – a fome – lhes anda a rondar a casa ou já se sentou à mesa. E onde tantas vezes vivem crianças e jovens, famílias monoparentais e pessoas com deficiência.

O segundo facto a deixar claro que a causa da pobreza é a exploração capitalista, é que ao lado de tantos portugueses a viver nesta situação existe uma realidade substancialmente diferente e revoltante: os portugueses com fortunas superiores a 20 milhões de euros crescem e crescem e voltam a crescer. Como crescem as desigualdades sociais fruto desta tão injusta distribuição da riqueza.

 

Propostas do PCP com vista à erradicação da pobreza

Estas são as decisões mais estruturantes e consequentes para o combate à pobreza e são parte integrante da Política Patriótica e de Esquerda que o PCP propõe para o País.

Superar o capitalismo

No plano internacional, a realidade não é diferente. A riqueza está cada vez mais concentrada nas fortunas dos grandes capitalistas enquanto a pobreza e a miséria alastram. E tudo isto acontece num tempo em que devido aos avanços e conquistas da ciência e da técnica, do conhecimento e do saber, nunca na história da Humanidade se produziram tantos bens materiais que, se colocados ao serviço dos povos, possibilitariam níveis de desenvolvimento e emancipação do ser humano nunca antes experimentados.

Só que a ciência, o conhecimento e a produção não estão ao serviço do ser humano, mas sim ao serviço da ganância do lucro das multinacionais. É o carácter desumano do capitalismo no seu esplendor, nada sensível ao facto de morrerem milhões de seres humanos à fome ou por falta de assistência médica.

Esta realidade realça e dá muita força ao projecto comunista e à sua actualidade: revolucionário, libertador, profundamente justo e, por isso, verdadeiramente democrático. É com esta ferramenta que nós, comunistas portugueses, tendo como base o nosso Programa e a democracia avançada com os valores de Abril no futuro de Portugal, ancorados na luta dos trabalhadores e do povo, chegaremos à sociedade liberta da exploração do homem pelo homem, a sociedade socialista.


Armindo Miranda