Resistência popular dá vitória no Equador

ACORDO Milhões de equatorianos celebraram a vitória da resistência popular sobre o neoliberalismo, com o acordo entre governo e movimento indígena para revogar o decreto que eliminou o subsídio aos combustíveis.

Medida imposta pelo FMI revogada após 11 dias de manifestações

LUSA


No Equador, na segunda-feira, 14, foi estabelecido um acordo entre governo e manifestantes, depois de 11 dias de protestos contra as medidas governamentais de cariz neoliberal, rejeitadas por diferentes sectores da sociedade. Para o diálogo, intermediado pelas Nações Unidas e pelos bispos equatorianos, o movimento indígena apresentou uma só opção, a de anular o decreto detonador do levantamento popular que conquistou cada vez mais apoio cidadão.

O governo recuou em toda a linha e aceitou rever a medida de modo a que a liberalização do preço dos combustíveis não castigue ainda mais os equatorianos de menores rendimentos.

O polémico decreto do governo do presidente Lenine Moreno faz parte de um pacote de medidas de «ajuste económico» – paquetazo, chamaram-lhe os equatorianos –, ou seja, de austeridade para o povo e corte de rendimentos para os trabalhadores, imposto pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) a troco de um empréstimo de quatro mil e 200 milhões de dólares.

«Somos milhões os que agora lhe pedimos que aposte na paz, na estabilidade, na recuperação do país. Revogue este decreto e procuremos juntos um horizonte de prosperidade, equidade, paz social e bem-estar. A decisão de recuperar a pátria está nas suas mãos», afirmou Jaime Vargas, presidente da Confederação de Nacionalidades Indígenas (Conaie), dirigindo-se a Moreno.

Repressão brutal

A luta levada a cabo nas ruas deu frutos: a anulação dos efeitos do decreto e a criação de uma comissão para atender as exigências populares, procurando recuperar a economia sem atingir as camadas de menores rendimentos. Dessa comissão fazem parte nove pessoas indicadas pelos indígenas e seis pelo governo de Moreno que, logo no início das manifestações populares, deixou a capital e refugiou-se, com ministros e altos comandos das forças armadas, em Guayaquil, bastião da direita.

Uma das exigências dos indígenas, que Moreno prometeu «analisar», é a saída do Equador do FMI e a procura de soluções internas para os problemas económicos, que não sejam as habituais receitas geradoras de maior iniquidade e pobreza.

Além de medidas económicas e sociais, a Conaie pediu a demissão do ministro da Defesa, Fausto Jarrín, e de outros governantes, responsáveis pela violência repressiva contra os manifestantes, ao longo dos 11 dias de paralisação. Em resultado da repressão das «forças da ordem», entre os dias 3 e 13 – período em que foi decretado o estado de emergência e, depois, o recolher obrigatório –, morreram sete pessoas, 1340 ficaram feridas e foram detidos 1152 manifestantes.

O protesto social causado pela subida dos preços dos combustíveis e pelo anúncio de cortes nos rendimentos dos trabalhadores, entre outras medidas de cariz neoliberal, provocou manifestações de milhares de pessoas, envolvendo, entre outros sectores, indígenas, trabalhadores, camponeses, donas de casa e estudantes universitários, em Quito e noutras cidades.

No plano político, o actual chefe do Estado equatoriano responsabilizou o ex-presidente da República, Rafael Correa, e membros do movimento político Revolução Cidadã, de liderar acções que conduziram às grandes manifestações populares dos últimos dias, tendo em vista desestabilizar o governo e «impulsionar um golpe de Estado».

As acusações foram rejeitadas por Correa, para quem tais declarações são parte da estratégia de Moreno para atacar os chamados «correístas» e criar falsos pretextos para desviar as atenções da derrota política que sofreu com a unidade do protesto cidadão.




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