Da sanha e do medo
Este ano, o tema é incontornável, para um Actual que se publica na véspera da Festa e no Jornal que lhe dá nome. Incontornável pela sanha colocada na incessante campanha contra o PCP, que agora decorre sob o mote da Festa, mesmo depois de esgotados todos os argumentos racionais e até a maioria dos irracionais.
Mas de onde vem essa incessante campanha contra o PCP? De incessantes erros e faltas do PCP? Seria muito errar, mesmo para obra tão humana. Até porque, como é fácil constatar, aquilo que é criticado no PCP é depois elogiado noutros (lembro o candidato em exercício, Marcelo Rebelo de Sousa, a elogiar a coragem dos organizadores da Feira do Livro e logo de seguida a criticar a organização da Festa do Avante!) ou simplesmente ignorado (vejam a forma séria como os jornalistas escutaram a hilariante declaração de Catarina Martins de que o bloco também costumava organizar iniciativas semelhantes, mas este ano não o faria, quando o normal seria todos rirem à gargalhada gaguejando uns «semelhante?» em tom de gozo.)
A coisa vai mais fundo. A um modo de produção numa crise terminal – o capitalismo – e à única força que não só diz que o quer superar, como quer e é capaz de concretizar o que quer. E que não se submete à ditadura da burguesia e do pensamento único.
Ora para que a superação do capitalismo se dê é preciso que muitos daqueles a quem ela interessa em primeiro lugar – aos trabalhadores – se apercebam da necessidade e possibilidade dessa superação, e se organizem politicamente para poderem almejar concretizar esse objectivo político. Pelo que enfraquecer e afastar os trabalhadores dessa organização política (em Portugal, no PCP) é condição necessária de sobrevivência da pequena percentagem da população que vive de se apropriar, no quadro do modo de produção capitalista, da riqueza produzida por esses trabalhadores.
E quanto mais medo eles tiverem, maior será a sanha.