Firas Masri
Representante do Partido Comunista Libanês

O Partido Comunista está na primeira linha do apoio ao povo libanês

Firas Masri está solidário com o PCP, que realizou a Festa «apesar de todos os ataques», e aponta a necessidade de fazer do Líbano um país «laico e moderno».


A recente explosão no porto de Beirute agravou a já difícil situação económica, social e política do Líbano. Que leitura faz o Partido Comunista Libanês (PCL) dessa situação?

Os problemas económicos e sociais do Líbano não são de hoje. Vêm de trás, das políticas neoliberais implementadas (desde o final da guerra civil, em 1994) pelos que partilham o poder no país, sob os auspícios dos EUA, da União Europeia e dos países reaccionários do Golfo. Mas em Outubro a situação agravou-se, com a inflação e o aumento da taxa de câmbio entre o dólar e a libra libanesa a provocarem perdas brutais no poder aquisitivo dos trabalhadores. Era de esperar que o imperialismo aproveitasse as brechas provocadas pelas políticas neoliberais para tentar dar um golpe final no Líbano enquanto país resistente ao sionismo. Sobretudo após perceber que era impossível derrotar militarmente a resistência.

Esse é um momento-chave…

Nessa altura, a pressão popular travou as imposições do FMI, da UE, da antiga potência colonial [a França] e do imperialismo, e o governo caiu. Formou-se outro, dito de independentes, que incluía patriotas de direita e centro-direita, o que para nós foi um erro grave, pois de forma indirecta assumiram a herança política dos anteriores, enfraquecendo a resistência. Com a explosão de Beirute, também este governo caiu, a situação económica piorou e a antiga potência colonial aí está, com centenas de militares no país, a procurar interferir na composição do governo e a ameaçar com sanções.

Estão a formar-se novas alianças na região e o porto de Beirute é estratégico. A explosão não pode ser analisada fora desse contexto. O porto é gerido pelos mesmos que dirigem o Líbano desde há anos, que respondem a interesses externos.

Qual a situação humanitária?

Os números apontam para perto de 200 mártires, a que acresce um número indeterminado de desaparecidos, e 300 mil casas danificadas. O PCL está na primeira linha do apoio ao povo libanês, mobilizando os seus militantes e amigos e as organizações sociais. É justo destacar o papel do Socorro Popular Libanês (lançado pelo Partido na década de 1970), que presta auxílio aos níveis da saúde, limpeza e reconstrução.

Que saída apontam os comunistas?

Sem mudanças profundas não há saída… O Partido Comunista Libanês lançou um apelo às forças patrióticas e progressistas visando a constituição de uma frente para salvar o país. O Líbano tem de ser um país laico, moderno, com uma lei eleitoral assente num único círculo nacional e sem base confessional.

O povo libanês reconhece no PCL um partido patriótico, conhece os sacrifícios e os mártires, sabe quem realmente defende os trabalhadores e as camadas populares. Da nossa parte, estamos obrigados a melhorar a organização, a reconstruir os sindicatos, a intervir junto dos jovens. E desde o último Congresso temos dado passos nesse sentido.




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