As manhas da avestruz
É sabido que quando o instinto a aconselha a ser prudente, a avestruz finge que não vê. A ave é forte mas, em momentos mais turbulentos, limita-se a aguardar que o mau tempo passe. Assim resolve, por vezes, as suas dificuldades. Outras vezes, não. Em vez de encontrarem solução, os problemas da avestruz só se complicam. Esta imagem nada tem de original. É usada, vezes sem conta, na esfera da política, quando se trata de descrever qualquer estratégia de um opositor que tente passar ao lado das realidades. E a hierarquia católica é useira e vezeira nestas práticas. Cala-se até ao momento em que os crimes se concretizam. Assume, mais tarde, o papel de crítica e juiz das acções que os outros praticaram.
Presentemente, a humanidade vive sentada sobre uma caldeira quase à beira da explosão. Por toda a parte, desenvolvem-se ou preparam-se as guerras económicas, as operações bélicas, a imposição da vontade dos fortes e dos ricos, a alienação das multidões, as doenças, a ignorância, as fomes, a tortura. É a altura escolhida por bispos e cardeais para se alhearem de tudo. Em Roma, falam do Papa. Em Portugal, fogem para Fátima. Depois, se verá! A igreja decidiu, na sua sabedoria, meter a cabeça na areia.
Ao folhearmos jornais, revistas, páginas da Internet, só encontramos provas de que a Igreja pratica a estratégia do silêncio. Depois da baforada mediática do novo Papa e das peregrinações a Fátima, os bispos portugueses ficaram, ao que parece, sem nada mais para dizer. E no entanto, em Portugal e no mundo, explode o desemprego, colocam-se os pobres na berma da estrada, aperta-se o cerco às áreas sociais, reduzem-se direitos e garantias dos cidadãos e alastra a imensa fogueira dos grandes escândalos. Perante tudo isto a igreja oculta o olhar sob as suas longas vestes. Quando tudo estiver consumado, o dia virá em que o clero irá achar oportuno falar doutoralmente nos crimes que estão a ser cometidos.
Poderá dizer-se que não são só eles que se calam! Outros há que mentem e se ocultam atrás dos bastidores da moral. Uma omissão culposa, no entanto, nunca justifica uma outra omissão. No caso da igreja católica, é evidente que o argumento não colhe. Recorda a hierarquia que os cristãos são «o sal da Terra». Os não-crentes aguardam que os bispos assim se comportem.
Portugal já conta com muito mais de 500 000 trabalhadores desempregados. O povo português não tem, em quantidade e qualidade aceitáveis, escolas, hospitais, lares, instalações sociais, habitações, transportes, ou serviços de protecção à família, aos deficientes, aos jovens, aos humildes, aceitáveis em quantidade e qualidade. Não dispõe, já, de indústria, agricultura, minas e pesca, produtos artesanais. Os governos desmontam o sistema produtivo e amoldam aos seus interesses de classe o regime democrático, com um completo à-vontade. A justiça arrasta-se e a opinião pública é joguete nas mãos dos ricos que dominam a comunicação social. A par da miséria agiganta-se a opulência dos «vendilhões do Templo». A SONAE fechou o 1.º trimestre de 2005 com um lucro declarado de 134 milhões de euros. O BCP Millenium teve lucros de 137 milhões. O Santander Totta registou 83 milhões. O Espírito Santo, 80 milhões. O BPI, 70 milhões de euros. Tudo isto, apenas em 3 meses. E isto é só um exemplo mínimo daquilo que acontece numa nação onde os detentores do poder dizem ao povo, vezes sem conta, que todos temos de «emagrecer» e de «apertar o cinto». O capitalismo procura impor, como modelo de organização, um figurino feudal modificado: o povo trabalha e paga; a Igreja, assiste e beneficia; e os ricos arrecadam os lucros.
A igreja católica institucional participa neste vasto império financeiro.
Tem bancos e grupos empresariais próprios e outros cujos capitais controla.
Não apresenta contas públicas nem tem de fazê-lo, visto essa garantia lhe ser dada pela concordata entre a Santa Sé e o Estado português.
Ninguém conhece a composição do capital gerido pela igreja. Mas fácil será admitir, com escassa margem de erro, que ele resulta, principalmente, da exploração directa dos seus bens patrimoniais, como é o caso de Fátima; dos insondáveis subsídios, directos e indirectos, desviados do Orçamento do Estado; e das relações privilegiadas que o aparelho eclesiástico alimenta com o mundo financeiro privado (veja-se o exemplo mais evidente do Millenium BCP). Só os crentes católicos pode mudar, no interior da igreja, este deplorável estado de coisas. Por exemplo, exigindo ao clero, a prestação de contas.
Presentemente, a humanidade vive sentada sobre uma caldeira quase à beira da explosão. Por toda a parte, desenvolvem-se ou preparam-se as guerras económicas, as operações bélicas, a imposição da vontade dos fortes e dos ricos, a alienação das multidões, as doenças, a ignorância, as fomes, a tortura. É a altura escolhida por bispos e cardeais para se alhearem de tudo. Em Roma, falam do Papa. Em Portugal, fogem para Fátima. Depois, se verá! A igreja decidiu, na sua sabedoria, meter a cabeça na areia.
Ao folhearmos jornais, revistas, páginas da Internet, só encontramos provas de que a Igreja pratica a estratégia do silêncio. Depois da baforada mediática do novo Papa e das peregrinações a Fátima, os bispos portugueses ficaram, ao que parece, sem nada mais para dizer. E no entanto, em Portugal e no mundo, explode o desemprego, colocam-se os pobres na berma da estrada, aperta-se o cerco às áreas sociais, reduzem-se direitos e garantias dos cidadãos e alastra a imensa fogueira dos grandes escândalos. Perante tudo isto a igreja oculta o olhar sob as suas longas vestes. Quando tudo estiver consumado, o dia virá em que o clero irá achar oportuno falar doutoralmente nos crimes que estão a ser cometidos.
Poderá dizer-se que não são só eles que se calam! Outros há que mentem e se ocultam atrás dos bastidores da moral. Uma omissão culposa, no entanto, nunca justifica uma outra omissão. No caso da igreja católica, é evidente que o argumento não colhe. Recorda a hierarquia que os cristãos são «o sal da Terra». Os não-crentes aguardam que os bispos assim se comportem.
Portugal já conta com muito mais de 500 000 trabalhadores desempregados. O povo português não tem, em quantidade e qualidade aceitáveis, escolas, hospitais, lares, instalações sociais, habitações, transportes, ou serviços de protecção à família, aos deficientes, aos jovens, aos humildes, aceitáveis em quantidade e qualidade. Não dispõe, já, de indústria, agricultura, minas e pesca, produtos artesanais. Os governos desmontam o sistema produtivo e amoldam aos seus interesses de classe o regime democrático, com um completo à-vontade. A justiça arrasta-se e a opinião pública é joguete nas mãos dos ricos que dominam a comunicação social. A par da miséria agiganta-se a opulência dos «vendilhões do Templo». A SONAE fechou o 1.º trimestre de 2005 com um lucro declarado de 134 milhões de euros. O BCP Millenium teve lucros de 137 milhões. O Santander Totta registou 83 milhões. O Espírito Santo, 80 milhões. O BPI, 70 milhões de euros. Tudo isto, apenas em 3 meses. E isto é só um exemplo mínimo daquilo que acontece numa nação onde os detentores do poder dizem ao povo, vezes sem conta, que todos temos de «emagrecer» e de «apertar o cinto». O capitalismo procura impor, como modelo de organização, um figurino feudal modificado: o povo trabalha e paga; a Igreja, assiste e beneficia; e os ricos arrecadam os lucros.
A igreja católica institucional participa neste vasto império financeiro.
Tem bancos e grupos empresariais próprios e outros cujos capitais controla.
Não apresenta contas públicas nem tem de fazê-lo, visto essa garantia lhe ser dada pela concordata entre a Santa Sé e o Estado português.
Ninguém conhece a composição do capital gerido pela igreja. Mas fácil será admitir, com escassa margem de erro, que ele resulta, principalmente, da exploração directa dos seus bens patrimoniais, como é o caso de Fátima; dos insondáveis subsídios, directos e indirectos, desviados do Orçamento do Estado; e das relações privilegiadas que o aparelho eclesiástico alimenta com o mundo financeiro privado (veja-se o exemplo mais evidente do Millenium BCP). Só os crentes católicos pode mudar, no interior da igreja, este deplorável estado de coisas. Por exemplo, exigindo ao clero, a prestação de contas.