Contra a guerra no Iraque

‘Mães da Estrela Dourada’ enfrentam Bush

John Catalinotto
A mãe de Casey Sheehan, morto no Iraque a 4 de Abril de 2004, não descansa desde a sua morte, ou como ela diz agora, «desde que Bush o matou».

«Nós aqui não temos liberdade, graças ao seu Patriot Act»

Por vezes, uma acção individual, por mais corajosa e justa que seja, é rapidamente esquecida. Outras vezes, a mesma acção leva dezenas de milhões de pessoas a mudar de atitude e isso pode mudar o mundo.
Um acontecimento com essas possibilidades ocorreu no insuspeito lugar de Crawford, Texas, aqui nos EUA. A pessoa é Cindy Sheehan, uma mulher californiana de 48 anos de idade e mãe de quatro filhos. Um dos quatro, Casey Sheehan, era um soldado norte-americano e foi morto aos 24 anos em Sadr City, Bagdad, Iraque, em 4 de Abril de 2004.
A mãe de Casey Sheehan não descansa desde a sua morte, ou como ela diz agora, «desde que Bush o matou». Começou a falar contra guerra com particular autoridade. Fundou a organização «Mães da Estrela Dourada» (Gold Star mothers), de mulheres cujos filhos morreram no Iraque.
Crawford, Texas, é a terra de Bush. A maioria das pessoas que ali vivem votaram em Bush. Bush tem ali um rancho onde passa férias fazendo de conta que é um rancheiro. Ele está lá a passar cinco semanas de férias este mês de Agosto. Uma longas férias enquanto os soldados norte-americanos e iraquianos morrem diariamente.
Sheehan apanhou um autocarro a 6 de Agosto com alguns militares veteranos contra a guerra para confrontar Bush. Em Crawford, começaram a marchar à volta do rancho de Bush. Outras pessoas juntaram-se a eles, incluindo outras «Gold Star mothers» que viajaram doutros pontos do país. O sheriff local obrigou-os a marchar numa vala, com a auto-estrada de um lado e arame farpado do outro. Eles montaram «Camp Casey» com o apoio da Casa da Paz fornecido por militantes pacifistas de Dallas.

O momento certo

Talvez tenha sido o momento certo. Catorze marines tinham justamente acabado de ser mortos por uma mina terrestre no Iraque. Talvez toda a equipa de imprensa da Casa Branca em Crawford não tivesse mais nada para escrever. Talvez a classe situacionista acredite que a aventura de Bush no Iraque foi um grande erro para o imperialismo norte-americano e expôs todas as suas fraquezas. A história de Cindy Sheehan conseguiu muito mais publicidade nos média situacionistas do que os protestos costumam ter.
Em 7 de Agosto, um responsável GI no activo, do vizinho Fort Hood, parou para desejar felecidades a Sheehan. Outras «Gold Star mothers» de diferentes pontos do país telefonaram a avisar que estavam a caminho de Crawford. A 8 de Agosto, os Serviços Secretos informaram-na que tinha até 11 de Agosto para se ir embora ou seria presa como uma «ameaça à segurança nacional». Sheehan ficou. O prazo passou sem qualquer prisão.
Cindy quer encontrar-se com Bush para lhe pedir explicações: «Qual foi a causa nobre pela qual Casey morreu? Foi pela liberdade e pela democracia? Tretas! Ele morreu pelo petróleo. Morreu para fazer os seus amigos enriquecer. Morreu para expandir o imperialismo americano no Médio Oriente. Nós aqui não temos liberdade, graças ao seu Patriot Act. O Iraque não é livre. Tire a América do Iraque e Israel da Palestina e acabará com o terrorismo!»

América solidária

«Camp Casey» cresceu consideravelmente durante a semana tornando-se numa pequena aldeia de tendas e roullotes. A 5 de Agosto chegaram provisões para regozijo dos campistas e alívio dos vizinhos. De Fort Worth, Texas, um benemérito ofereceu garrafas de água; outros mandaram comida. A Casa da Paz, que estava hipotecada em 40 000 dólares, recebeu tantas contribuições de todo o país que pagou a hipoteca.
No sábado, 6 de Agosto, o campo organizou um sistema de denúncia pública, e 842 pequenas cruzes brancas com os nomes dos soldados caídos no Iraque foram alinhadas ao lado da auto-estrada ao longo de quatrocentos metros. Cerca de quatro centenas de manifestantes pró Cindy estiveram ali. Alguns viajaram durante dias de lugares tão distantes como o Maine e a Califórnia. Por outro lado, os convidados de talks-show de direita arregimentaram uma centena ou coisa que o valha de contra-manifestantes que apoiam Bush - uma bela demonstração de fraqueza para o Texas.

Fazer a diferença

As sondagens mostram que mais de 60 por cento da população está contra a guerra, mas passiva. Os jovens deixaram de se oferecer como voluntários para as Forças Armadas, mas poucos vão para a rua protestar. O protesto de Sheehan abre a porta a muitos que nunca no passado confrontaram o governo. Não culpam os iraquianos pelos seus problemas; culpam Bush.
Jean Prewitt, de Birmingham, Alabama, que votou em Bush em 2000, é uma contestatária improvável. Mas o seu filho, Kelley Prewitt, 24 anos, morto em Abril de 2003, quando conduzia um carro de munições que foi emboscado por combatentes da resistência. Mesmo então, durante seis meses, ela continuou a apoiar a guerra. «Mas a minha consciência mudou com as provas das mentiras de guerra», disse Prewitt aos média. Ao ver Sheehan na CNN, Jean decidiu juntar-se-lhe em Crawford.
Sheehan está consciente do potencial da sua acção. «Uma pessoa sozinha não faz a diferença», escreveu a 13 de Agosto no seu blog, «mas uma pessoa, com milhões por trás de si, pode fazer história».


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