O distrito de Lisboa no protesto geral

Resposta marcante e corajosa

No distrito de Lisboa, a força da greve geral provou que cada vez mais trabalhadores repudiam a política de direita e reclamam por justiça social.

A greve teve dimensões sem precedentes

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Faltavam menos de duas horas para a meia-noite de início da greve geral e a força do protesto já se fazia sentir fortemente no distrito. Os utentes do Metropolitano de Lisboa depararam-se com a luta quando deixaram de ter transporte, a partir das 22.40 horas, e situações semelhantes ocorreram à hora de entrada nos primeiros turnos do dia de luta na Carris, na CP, nos transportes fluviais, nas autarquias, nos serviços públicos de saúde e em muitas empresas privadas.

Na estação do Rossio, a força da adesão dos trabalhadores ferroviários à greve geral forçou ao encerramento das entradas para a gare. No piquete de greve, o dirigente do Sindicato dos Ferroviários, SNTSF/CGTP-IN, José Manuel Oliveira, confirmou a quase total paragem de comboios no distrito.

Pelas ruas, foi notória a ausência de recolha de lixo.

Na Estação de Cabo Ruivo da Carris, o dirigente federação sindical dos trabalhadores rodoviários, FESTRU/CGTP-IN, Vítor Pereira confirmava adesões de 98 por cento.

De passagem pelo piquete de greve de ferroviários, no Cais do Sodré, o dirigente do SNTSF, José Araújo confirmou o encerramento da linha de Cascais. Nessa linha, em Oeiras, a adesão dos trabalhadores da autarquia, cerca de 70 por cento, evidenciava que a luta potenciava vir a ter dimensões sem precedentes.

No Tejo, não houve ligações fluviais de passageiros e os portos marítimos encerraram.

No CCO da REFER, em Braço de Prata, num piquete de greve, o dirigente ferroviário, Abílio Carvalho, do SNTSF, confirmou a previsão de «uma adesão excelente e total».

De madrugada, na TAP, o coordenador da Comissão de Trabalhadores da Sociedade Portuguesa de Handling, Fernando Henriques, e o dirigente do Sindicato dos Trabalhadores da Aviação e Aeroportos (SITAVA/CGTP-IN) Vítor Baeta confirmaram a total ausência de tráfego aéreo na Portela, salvo serviços mínimos. Foi uma adesão «histórica e sem precedentes» dos trabalhadores do Grupo TAP a uma greve geral, considerou o dirigente do SITAVA.

No Handling, Fernando Henriques confirmou-nos que onde deviam estar ao serviço oitenta trabalhadores, apenas dois efectivos furaram a greve.

No Centro Comercial Vasco da Gama, piquetes de greve do Sindicato do Comércio sensibilizaram os que iam trabalhar. Foi a primeira vez que trabalhadores dos supermercados Continente aderiram a uma greve geral, confirmou a dirigente do CESP, no piquete, Isabel Camarinha.

No Corte Inglês, um piquete contactava trabalhadores. Emília Marques, também do CESP/CGTP-IN salientou que «ainda há um grande medo de participar, por receio de represálias, mas onde muitos não vieram trabalhar».

Foi também constatável o fecho de balcões do banco CGD e, no Areeiro, a Segurança Social, como muitos serviços públicos, esteve encerrada.

 

CML

 

A unidade dos trabalhadores na luta da greve geral foi demonstrada pelo Sindicato dos Trabalhadores do Município de Lisboa (STML/CGTP-IN) quando revelou uma participação de trabalhadores do Departamento de Higiene Urbana e Resíduos Sólidos da Direcção Municipal do Ambiente Urbano daquela Câmara Municipal, na ordem dos 89 por cento, tendo aderido 485 trabalhadores de um total de 548, na noite de terça-feira.

Os sapadores bombeiros foram os primeiros trabalhadores do distrito a participar na greve geral. Ao primeiro turno em greve, nos dez quartéis da cidade, aderiram à luta mais de 90 por cento dos 120 trabalhadores. No Aeroporto de Lisboa cumpriram greve dez, de um total de onze bombeiros.

Reflectir sobre a reestruturação de serviços na Câmara Municipal de Lisboa é o propósito da Reunião Geral de Trabalhadores, agendada para hoje, nos Paços do Concelho, pelo STML, a partir das 9.30 horas.

Os hospitais do distrito registaram uma adesão média à greve de 85 por cento, divulgou a União dos Sindicatos de Lisboa. No Hospital de Santa Maria, 90 por cento do pessoal médico e auxiliar participaram na luta. No Hospital D. Estefânia, a totalidade dos enfermeiros esteve em greve, enquanto no Hospital Júlio de Matos, a participação foi de 94 por cento destes profissionais.

No Hospital S. Francisco Xavier, o Sindicato dos Enfermeiros Portugueses anunciou uma adesão a rondar os 83 por cento, e total no Hospital de Santo António dos Capuchos. No Centro de Orientação de Doentes Urgentes, a participação foi de 77 por cento.

 

Jornalistas

 

Na RTP, vários programas foram prejudicados», tendo a administração recorrido a «meios externos para dar uma aparência de normalidade no funcionamento», revelou o Sindicato dos Jornalistas. Em Lisboa, de manhã, «21 dos 31 câmaras não trabalharam; no Porto, apenas dois dos 13 câmaras trabalharam». À tarde, «a maioria dos jornalistas da secção de Sociedade estava em greve, enquanto na Política, «apenas trabalhou a chefia e um jornalista».

Na Agência Lusa, o piquete da manhã, na sede da empresa, registou uma adesão a cem por cento. Os índices de participação também foram bastante significativos nas delegações do Porto e de Coimbra.



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