Cantado por Adriano

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Menina dos Olhos Tristes

 

Menina dos olhos tristes

o que tanto a faz chorar

o soldadinho não volta

do outro lado do mar


Vamos senhor pensativo

olhe o cachimbo a apagar

o soldadinho não volta

do outro lado do mar


Senhora de olhos cansados

porque afatiga o tear

o soldadinho não volta

do outro lado do mar


Anda bem triste um amigo

uma carta o fez chorar

o soldadinho não volta

do outro lado do mar

 

A lua que é viajante

 é que nos pode informar

o soldadinho já volta

está mesmo quase a chegar


Vem numa caixa de pinho

do outro lado do mar

desta vez o soldadinho

nunca mais se faz ao mar

 

Música: Zeca Afonso
Letra: Reinaldo Ferreira

  

Fala do Homem Nascido


Venho da terra assombrada

do ventre da minha mãe.

Não pretendo roubar nada

nem fazer mal a ninguém.


Só quero o que me é devido

por me trazerem aqui.

Que eu nem sequer fui ouvido

no acto de que nasci.


Trago boca pra comer

e olhos pra desejar.

Tenho pressa de viver

que a vida é água a correr.

 

Tenho pressa de viver

que a vida é água a correr.

Venho do fundo do tempo

não tenho tempo a perder.


Minha barca aparelhada

solta o pano rumo ao Norte.

Meu desejo é passaporte

para a fronteira fechada.


Não há ventos que não prestem

nem marés que não convenham.

Nem forças que me molestem

correntes que me detenham.


Quero eu e a natureza

que a natureza sou eu.

E as forças da natureza

nunca ninguém as venceu.


Com licença! Com licença!

Que a barca se fez ao mar.

Não há poder que me vença

mesmo morto hei-de passar.


Não há poder que me vença

mesmo morto hei-de passar.

Com licença! Com licença!

Com rumo à estrela polar.


Venho da terra assombrada (…)

 

Música: José Niza
Letra: António Gedeão

  

Cantar de Emigração


Este parte, aquele parte

e todos, todos se vão

Galiza ficas sem homens

que possam cortar teu pão

 

Tens em troca

órfãos e órfãs

tens campos de solidão

tens mães que não têm filhos

filhos que não têm pai

 

Coração

que tens e sofre

longas ausências mortais

viúvas de vivos mortos

que ninguém consolará

 

Este parte, aquele parte (…)

 

Música: José Niza
Letra: Rosália de Castro

  

Tejo que Levas as Águas

 

Tejo que levas as águas

correndo de par em par

lava a cidade de mágoas

leva as mágoas para o mar


Lava-a de crimes espantos

 

de roubos, fomes, terrores,

lava a cidade de quantos

do ódio fingem amores


Leva nas águas as grades

de aço e silêncio forjadas

deixa soltar-se a verdade

das bocas amordaçadas


Lava bancos e empresas

dos comedores de dinheiro

que dos salários de tristeza

arrecadam lucro inteiro


Lava palácios vivendas

casebres bairros da lata

leva negócios e rendas

que a uns farta e a outros mata


Tejo que levas as águas

correndo de par em par

lava a cidade de mágoas

leva as mágoas para o mar


Lava avenidas de vícios

vielas de amores venais

lava albergues e hospícios

cadeias e hospitais


Afoga empenhos favores

vãs glórias, ocas palmas

leva o poder dos senhores

que compram corpos e almas


Leva nas águas as grades (...)


Das camas de amor comprado

desata abraços de lodo

rostos corpos destroçados

lava-os com sal e iodo


Tejo que levas as águas (…)

 

Música: Adriano Correia de Oliveira
Letra: Manuel da Fonseca

  

As Balas


Dá o Outono, as uvas e o vinho,

dos olivais, azeite nos é dado.

Dá a cama e a mesa o verde pinho,

as balas deram sangue derramado.


Dá a chuva o Inverno criador,

às sementes dá sulcos o arado.

No lar a lenha em chama dá calor,

as balas deram sangue derramado.


Dá a Primavera o campo colorido,

glória, coroa do mundo renovado.

Aos corações dá o amor renascido,

as balas deram sangue derramado.


Dá o Sol as searas pelo Verão,

o fermento no trigo amassado.

No esbraziado forno cresce o pão,

as balas deram sangue derramado.


Dá cada dia ao Homem novo alento,

de conquistar o bem que lhe é negado.

Dá a conquista um puro sentimento,

as balas deram sangue derramado.

 

De meditar, concluir, ir e fazer,

dá sobre o mundo o Homem atirado.

À paz de um mundo novo onde viver,

as balas deram sangue derramado.


Dá a certeza o querer e o construir,

o que tanto nos negou o ódio armado.

Que a vida construída é destruir,

as balas que deram sangue derramado.


Essas balas deram sangue derramado,

só roubo e fome e o sangue derramado.

Só ruína e peste e o sangue derramado,

só crime e morte e o sangue derramado.

 

Música: Adriano Correia de Oliveira
Letra: Manuel da Fonseca

  

Trova do Vento que Passa


Pergunto ao vento que passa

notícias do meu país

e o vento cala a desgraça

o vento nada me diz.

O vento nada me diz.


Mas há sempre uma candeia

dentro da própria desgraça

há sempre alguém que semeia

canções no vento que passa.


Mesmo na noite mais triste

em tempo de servidão

há sempre alguém que resiste

há sempre alguém que diz não.

 

Música: António Portugal
Letra: Manuel Alegre

  

Lágrima de Preta


Encontrei uma preta

que estava a chorar

pedi-lhe uma lágrima

para analisar.


Recolhi a lágrima

com todo o cuidado

num tubo de ensaio

bem esterilizado.


Olhei-a de um lado

do outro e de frente

tinha um ar de gota

muito transparente.


Mandei vir os ácidos

as bases e os sais

as drogas usadas

em casos que tais.


Ensaiei a frio

experimentei ao lume

de todas as vezes

deu-me o que é costume.


Nem sinais de negro

nem vestígios de ódio

água quase tudo

e cloreto de sódio.

 

Música: José Niza
Letra: António Gedeão



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