De quem é a culpa?

Aurélio Santos

Passos Coelho, o seu Governo e os partidos da direita que lhe estão na origem apesar de se arrogarem de democratas, deixaram mais uma vez bem claro que não suportam a democracia e não conseguem conviver com o normal funcionamento das instituições.

O discurso do primeiro-ministro, na linha das afirmações anteriormente feitas pela porta voz do PSD, sobre a decisão do Tribunal Constituicional, além de demagógico é de uma inqualificável insolência, muito ao estilo de criança birrenta que não suporta ser contrariada.

Em tom dramático e inflamado veio o sr. primeiro-ministro apontar o dedo acusador ao Tribunal Constitucional (agora transformado no bode expiatório dos desastrosos falhanços da política do Governo) por este não lhe permitir, pasme-se, governar à margem da Constituição.

Quando os números ficam a quilómetros das metas por ele estabelecidas, a culpa não é do Governo, é dos números.

Se a realidade contraria o seu discurso a culpa também não é, naturalmente do Governo, mas obviamente dessa mesma realidade que tenta contrariá-lo.

Agora não é o Governo que tenta governar desrespeitando a lei, é a lei que não o deixa governar.

Em suma, para este Governo o mundo é que está sempre todo errado, e contra ele, porque ele está infalivelmente sempre certo.

E para completar este triste cenário temos na Presidência da República um senhor que parece ter esquecido as suas funções e obrigações como Presidente e opta por agir como dirigente do partido do Governo. Ao ser posto perante o dilema – salvar o País demitindo o Governo, ou salvar o governo destruindo o País – escolhe salvar o Governo, levando mesmo ao colo o ministro das Finanças.

Tudo isto acontece porque nós deixamos, porque permitimos, porque aceitamos. É tempo de não permitirmos, de não aceitar. É tempo de correr com este Governo que nos desgoverna.



Mais artigos de: Opinião

O «paradigma»

Ao tomar posse, Passos Coelho disse: «vamos criar em Portugal um novo paradigma». Ele aí está, o paradigma: miséria generalizada nos desempregados e reformados – ambos aos milhões, nenhum a descortinar como sobreviver no dia a dia, todos lançados na...

As reacções da <i>reacção</i>

A importante derrota imposta ao Governo e à sua política pela decisão do Tribunal Constitucional – que decretou a inconstitucionalidade de quatro artigos do Orçamento do Estado – determinou uma inaceitável operação de pressão e chantagem sobre o povo e o...

Farsa em três actos

O Governo reagiu ao chumbo de medidas do Orçamento do Estado pelo Tribunal Constitucional com uma dramática encenação, desta feita em três actos, tão grotesca que seria hilariante se não fosse trágica a situação do País. O primeiro acto...

Para que a verdade não morra

Escrever neste momento sobre a escalada de confrontação na Península da Coreia é a vários títulos um risco, mas um risco que é necessário correr. A escalada de acusações, ameaças e movimentações militares, sendo infelizmente recorrente na região, atingiu uma tal dimensão, que a situação pode ficar fora de controle e conduzir à guerra.

Armas e terror

Enquanto na ONU votam um Tratado alegadamente para controlar o comércio de armas, as principais potências imperialistas asseguram uma «catarata de armas» para os rebeldes sírios, através duma «ponte aérea secreta» que «começou em pequena escala no...