Abrir caminhos de esperança
Jerónimo de Sousa esteve no sábado em Trás-os-Montes e Alto Douro, a participar num almoço em Vila Real e num comício em Mirandela. A luta contra o pacto de agressão e pela demissão do Governo esteve em destaque nas suas intervenções.
O PCP foi o primeiro a defender a renegocição da dívida
Foto LUSA
As duas acções tiveram lugar um dia após se terem assinalado dois anos sobre a apresentação da proposta de renegociação da dívida pública e a data não passou despercebida ao Secretário-geral do Partido, que lembrou que tal solução foi defendida em primeiro lugar pelo PCP, como alternativa à intervenção da troika (que seria anunciada apenas dois dias depois).
Nessa altura, lembrou Jerónimo de Sousa, a proposta foi «considerada uma blasfémia pelos partidos da troika nacional e pelos comentadores do consenso nacional formatado pelos interesses do capital financeiro», que acusavam o PCP de não querer pagar a dívida e de pretender pôr em causa a reputação do Estado português. Faziam-no, e ainda o fazem, «como se a proposta fosse porventura uma coisa inédita ou própria de países párias», salientou o dirigente comunista, lembrando que a própria Alemanha renegociou a sua dívida «quando os seus interesses o ditaram».
Porém, assinalou o Secretário-geral do Partido, amplos sectores, incluindo muitos dos que criticaram a proposta do PCP, reconhecem hoje a validade dessa proposta: «Hoje parece que já não é um sacrilégio e a renegociação passou a ser a palavra-chave para todas as manipulações e para cobrir todas as falsas soluções», alertou o dirigente comunista, salientando que a «renegociação» prevista pelo Governo não só «não põe em causa os interesses da especulação financeira» como visa a própria «sobrevivência do Governo e da sua política de desastre nacional». Para Jerónimo de Sousa, esta é uma «fraca tábua de salvação» para um Governo que está «cada vez mais isolado, desacreditado e sem legitimidade».
Prazos, juros e montantes
A renegociação que o PCP defende, como foi aliás expresso há dois anos, integra a totalidade da dívida em todos os seus termos, nomeadamente os seus prazos, juros e montantes. Como reafirmou no sábado Jerónimo de Sousa, a renegociação que o PCP defende «não é para salvar o pacto de agressão, é para tirar a corda da garganta do País que os partidos da troika lhe colocaram e o sufoca». Uma corda que «tanto o Governo como o PS querem manter, com as suas juras de fidelização à troika e ao pacto de agressão».
A renegociação, acrescentou, é para «garantir a criação de condições para o crescimento, para o aumento da produção nacional, para o aumento do investimento e a melhoria dos salários, pensões e reformas e em geral do poder de compra dos trabalhadores e das populações» e também para pôr fim à imposição de juros agiotas – que atingiram em 2012 os 7330 milhões de euros. O apuramento e rejeição da componente ilegítima dessa dívida também incorporam a proposta do PCP, frisou Jerónimo de Sousa.
A renegociação proposta pelo PCP – que terá que ser obrigatoriamente acompanhada de políticas que «ataquem as causas que levaram à dívida pública e privada colossal existente» – não é uma solução fácil, livre de dificuldades e constrangimentos. Mas é, salientou Jerónimo de Sousa, «aquela que, em vez de defender os interesses do capital, assume o compromisso com as necessidades dos trabalhadores, do povo e do País».
Defender a agricultura
Nas intervenções que proferiu em Mirandela e Vila Real, Jerónimo de Sousa deu especial destaque à situação da agricultura, que não escapa às dificuldades impostas pela «política de favorecimento dos grandes grupos económicos e dos senhores da alta finança». O Secretário-geral do Partido realçou o «grito de revolta» dos agricultores que, muito embora produzam «bons vinhos, boa fruta, azeite de alta qualidade, boa carne, leite, frutos secos, castanhas, batatas», empobrecem, enquanto o grande agro-negócio e os hipermercados acumulam riqueza. Entre as razões deste empobrecimento conta-se o aumento especulativo dos custos dos factores de produção, para o qual também contribuiu o aumento dos impostos, os cortes nos apoios ao investimento e o esmagamento dos preços à produção.
O dirigente comunista guardou ainda umas palavras para os baldios, salientando que estes, geridos pelos povos, servem, em primeiro lugar, para o usufruto dos compartes e têm uma obra colectiva incalculável: caminhos florestais, saneamento e distribuição de água para regadio e construção de edifícios de uso público. Os apetites de empresas de celulose, autarquias e outros interesses, são claros e conhecidos, mas Jerónimo de Sousa manifestou a sua confiança em que os povos «saberão lutar em sua defesa».