Abel Prieto, deputado na Assembleia Nacional do Poder Popular de Cuba

«Ter o sentido do momento histórico»

As relações entre os Estados Unidos da América e Cuba estão hoje num dos piores momentos de sempre, garante Abel Prieto, que esteve recentemente na Festa do Avante! integrado na delegação do Partido Comunista de Cuba (PCC). A demonstrá-lo está o agravamento do bloqueio, com a activação do Capítulo III da Lei Helms-Burton – como ficou conhecida a legislação com que, em meados da década de 90, os EUA procuraram asfixiar a economia cubana no momento em que esta se encontrava particularmente debilitada pelo desaparecimento da União Soviética e do campo socialista europeu.

Ora, este Capítulo III reforça o carácter extraterritorial do bloqueio dos EUA contra Cuba, permitindo que possa ser processada judicialmente qualquer entidade, independentemente da nacionalidade, que faça negócios com propriedades nacionalizadas pela Revolução cubana. A este propósito, Abel Prieto recorda que Cuba negociou indemnizações com países europeus e propôs o mesmo aos EUA, que «sempre se recusaram a negociar».

O encerramento de protocolos universitários e científicos entre os dois países, o favorecimento da imigração ilegal e da deserção e uma recente campanha de calúnias contra os mais de 35 mil médicos cubanos que prestam serviço no mundo são outras vertentes da renovada ofensiva imperialista contra a ilha socialista.

Abel Prieto cita o ministro cubano das Relações Exteriores, Bruno Rodriguez, para caracterizar ideologicamente a actual administração norte-americana: «uma mescla da antiga Doutrina Monroe com o Mccartismo, a que se soma um racismo totalmente impúdico» e uma «ideia messiânica acerca do papel dos EUA no mundo».

Sentido do momento histórico

Face às provocações norte-americanas, o Governo Revolucionário e o PCC apelam à unidade do povo e dão prioridade a duas áreas fundamentais: a defesa e a economia.

Relativamente à primeira, Abel Prieto sublinha a necessidade de Cuba estar «preparada para qualquer aventura» desencadeada pelos EUA e recorda a doutrina de Guerra de Todo o Povo, concebida por Fidel e Raul Castro, desenhada desde o nível municipal e distrital. «Cuba pode ser agredida, mas nunca ocupada», garantiu.

Quanto à economia e face ao feroz incremento do bloqueio económico, comercial e financeiro impostos pleos EUA, o comunista cubano realça a prioridade que está a ser concedida à segurança alimentar do país. «Gastamos muito a importar alimentos que poderíamos produzir.» Esta preocupação, garante Abel Prieto, não se fica pelo sector alimentar: «Temos de reduzir as importações ao mínimo indispensável e aumentar as exportações.» Para tornar a economia cubana mais eficiente é necessário «afastar qualquer estilo burocrático no nosso trabalho», assume, garantindo que o presidente Miguel Diaz-Canel está profundamente empenhado neste objectivo.

No campo da ideologia, Abel Prieto resume assim as exigências que estão colocadas ao povo e aos comunistas cubanos: «Temos de nos unir e de estarmos conscientes de que os tempos são perigosos e o inimigo mostra uma grande hostilidade, imprevisibilidade e ferocidade contra Cuba». Trata-se, portanto, de ter o sentido do momento histórico a que se referia Fidel no seu conceito de Revolução.




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