Kenosha não é na Bielorrússia

António Santos

Lusa


Mais uma vez, houve um telemóvel que filmou o que, de outra forma, seria certamente desmentido: Jacob Blake, um afro-americano de 29 anos, tinha acabado de separar duas mulheres envolvidas numa discussão e voltava, desarmado, para o carro, onde os três filhos o esperavam, quando um polícia entra em cena e, à queima-roupa, pelas costas, dispara sete tiros. Do interior do automóvel, as crianças de oito, cinco e três anos assistiam a tudo aterrorizadas.

Se tivesse acontecido em Minsk, em Pequim ou em Caracas, o vídeo de telemóvel repetir-se-ia ad nauseam em todas as televisões como prova da irrefutável ditadura. Os líderes da União Europeia anunciariam lestas sanções e seus ministros dos Negócios Estrangeiros desdobrar-se-iam, muito unidos, em exegeses aos Direitos Humanos. ONG internacionais de idoneidade inquestionável clamariam por comissões de inquérito internacionais. Mas Kenosha não fica na Bielorrússia, mas no Sul empobrecido e desindustrializado do Wisconsin, EUA, onde o desemprego supera os 10 por cento e 15 por cento da população vive na miséria.

Mas por terras do Tio Sam, como é aliás sabido, os governadores «democratas» como Tony Evers, são «forçados a chamar o exército» que, por sua vez, é «obrigado a intervir» contra «manifestantes profissionais» que «incendeiam e saqueiam» e «atiram pedras às autoridades». Aliás, quando se proíbem todas as manifestações e se declara o recolher obrigatório, como acontece desde segunda-feira em Kenosha, trata-se somente de «uma medida para salvaguardar a segurança da comunidade».

Jacob Blake luta pela vida numa cama de hospital. Se sobreviver, ficará para sempre preso a uma cadeira de rodas, informaram os médicos. É verdade que Jacob Blake não era um opositor russo, nem um presidente auto-proclamado, mas talvez, só talvez, somadas todas as 651 pessoas que, desde Janeiro, a polícia dos EUA já matou a tiro, chegássemos ao valor mediático, democrático e humanitário de um Navalny, de um Guaidó ou até de uma Tikhanovskaya. Talvez, se apenas Kenosha fosse na Bielorrússia.




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