Polícia mau, polícia bom

José Casanova
Há uma semana referi, aqui, os esforços financeiros de Bush para, através dos seus propagandistas nos média europeus, comprar uma boa imagem dos EUA.
A divulgação (Público de 1.10) das actas da reunião Bush/Aznar, ocorrida em Fevereiro de 2003, confirma-nos a existência de outros protagonistas na compra dessa boa imagem.
O que estava em causa na dita reunião, era saber se os EUA invadiriam o Iraque apoiados por uma resolução do Conselho de Segurança da ONU ou se o fariam mesmo sem essa resolução. A segunda hipótese era a preferida – especialmente para Aznar, preocupadíssimo em dar o seu contributo para a boa imagem dos EUA na Europa…
Bush, paciente, concede que, para facilitar a aprovação, o texto não deve «mencionar o uso da força» e deve dizer que Saddam «tem sido incapaz de cumprir as suas obrigações». Compromete-se, mesmo, a «usar uma retórica o mais subtil possível enquanto tentamos a aprovação da resolução» - e, magnânimo, condescende: «A resolução será feita de modo a ajudar-te».
Mas - insiste sempre - a invasão far-se-á na data já decidida com ou sem resolução da ONU – e «se alguém veta», a invasão far-se-á na mesma.
E Aznar, servo: «Tem um pouco de paciência». E Bush, senhor: «A minha paciência está esgotada». E Aznar, de mãos postas: «Não te peço uma paciência infinita». E Bush, condescendente e risonho: «Isto é como o jogo do polícia mau e do polícia bom. Eu não me importo de ser o polícia mau e que Blair seja o bom».
E o servo, servo: «Precisamos que nos ajudes com a nossa opinião pública (…) o que estamos a fazer é uma mudança muito profunda para Espanha e para os espanhóis». E o senhor, senhor: «Quanto mais os europeus me atacam mais forte sou nos EUA». E o servo, nervoso e invertendo a ordem dos factores: «Temos que tornar a tua força compatível com o apreço dos europeus».
Na data já, então, decidida a invasão do Iraque concretizou-se. Centenas de milhares de inocentes foram assassinados. Os polícias maus e os polícias bons continuam à solta. E a matar.
E os propagandistas de serviço continuam a disparar sobre os «anti-americanistas primários».


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