Manobras

Filipe Diniz
O PS, saído de um resultado eleitoral que lhe reduziu drasticamente o campo de manobra e, sobretudo, a possibilidade do exercício discricionário do poder, movimenta a central de comunicação a todo o gás.
Conduziu, com a conivência da direita, uma campanha eleitoral para a Assembleia da República em torno de questões acessórias e de falsas alternativas. Procura agora que a questão do futuro Governo se centre em que ministros ficam ou saem, mas não em que programa vai apresentar.
Há cinco anos (Público, 18.12.2004) Augusto Santos Silva constatava que «como em política económica, orçamental, europeia, de defesa e de segurança (pelo menos) um oceano separa o PS do PCP e do BE, o cenário de uma vitória de Sócrates por maioria relativa significaria no máximo um acordo minimalista, arrancado a ferros e precário», ao mesmo tempo que considerava «inimaginável qualquer convergência pós-eleitoral entre PS e PSD ou PP».
A vida mostrou que, se com a maioria absoluta que então obteve se tornou desnecessária a tal inimaginável convergência pós-eleitoral, em compensação nada separou a governação PS do PSD e PP em matéria de política económica, orçamental, europeia, de defesa e de segurança, e em várias áreas, como na Educação, no desmantelamento de serviços públicos e na legislação laboral, conseguiu ir ainda mais longe.
A composição actual da Assembleia da República admite novas possibilidades. Mas não admite fantasias, e muito menos admite manobras que visem responsabilizar o PCP pelo prosseguimento da política de direita pela mão de um governo PS.
Logo a seguir às eleições foi lançado um «Apelo à estabilidade governativa», subscrito por personalidades certamente respeitáveis e bem intencionadas, e por outras que não o serão tanto.
Independentemente da boa vontade que exprima, trabalha sobre várias mistificações. A pior é a que distribui pelo PS e pelas diferentes forças políticas à esquerda igual responsabilidade pelo prosseguimento, há mais de 30 anos, de «soluções de governo» de direita.
Não é por não terem existido ao longo destes anos, em diversos momentos, condições institucionais para o PS conseguir um entendimento maioritário à esquerda que este não se concretizou. Foi porque o PS nunca o desejou.
E nada indica que altere a sua posição agora.


Mais artigos de: Opinião

Manobras e ilusões

Os eleitores irlandeses - forçados a repetir o único referendo que a UE não conseguiu evitar e em que corajosamente chumbaram o Tratado de Lisboa – foram agora sujeitos a uma campanha em várias frentes para disciplinar o seu voto. Por um lado, receberam cenouras: as promessas de que podem manter a neutralidade do país e...

Estilos

Quando à dias alguém se referiu à actual Ministra da Saúde sublinhando o mérito de «ter conseguido manter o rumo da política do seu antecessor ao mesmo tempo que conseguira atenuar o largo descontentamento que este gerara» bem perto ficou da elaborada operação que o PS construiu para tentar, mantendo o rumo da sua...

Contra «escutas» e mistificações – votar CDU

Até domingo estamos empenhados no combate das autárquicas. E há condições para encerrar este ciclo eleitoral atingindo de novo o mais essencial dos objectivos que traçámos – o crescimento da CDU e um novo revés da política de direita, que torne mais próxima a sua derrota efectiva - uma ruptura democrática e patriótica e...

A tenda e o circo

Escassas horas após se conhecer os resultados das eleições legislativas do passado dia 27 de Setembro – que, como se sabe, despenharam o PS de uma arrogante maioria absoluta para uma indigente maioria relativa -, três ocorrências foram desencadeadas em sucessão e a partir de uma referência comum – o famigerado défice...