Saúde pela hora da morte
O PCP contesta a decisão do Governo de baixar novamente o preço de referência dos medicamentos, considerando que esta medida representará uma brutal transferência de custos para os utentes.
São crescentes os cortes na Saúde
Excluindo-a, dado não ser possível calcular o seu valor no imediato, o que se sabe é que as iniciativas anteriormente tomadas pelo Governo no capítulo do medicamento se traduziram num acréscimo de custos a suportar pela população superior a 230 milhões de euros.
«Esta é que é a política de defesa do Serviço Nacional de Saúde do PS: cortes na Saúde, na vida das pessoas, no acesso aos medicamentos», sublinhou o presidente do Grupo Parlamentar do PCP, em recente declaração política.
Bernardino Soares reagia assim às recentes juras do PS em defesa do SNS. Este diz não aceitar o seu desmantelamento mas é a realidade que se encarrega de o desmentir.
O deputado comunista comprovou-o, trazendo à colação vários outros exemplos sobre a acção do PS no Governo. Lembrou, nomeadamente, o aumento das taxas moderadoras - «o que é isso senão um corte na saúde, passando o custo para os utentes?», perguntou -, o aumento dos medicamentos ou a asfixia dos hospitais públicos.
Neste caso, observou, residirá provavelmente uma boa parte da justificação para a aflição da execução orçamental em que o Governo parece estar, com contas escondidas nos hospitais públicos, nos hospitais EPE, sabendo-se que no último OE a verba para o SNS diminuiu de facto relativamente ao de 2009.
O povo que pague
Em defesa da política do Governo interveio a deputada do PS Maria Antónia Almeida Santos, para quem as acusações do PCP, imagine-se, são uma expressão de «imobilismo». E justificou a transferência de custos para os utentes, originada pelas mudanças nas comparticipações, «tendo em conta o equilíbrio» do SNS.
Argumentos fortemente contestados por Bernardino Soares, que já antes os desmontara de forma cabal invocando para o efeito o próprio ex-titular da pasta da Saúde, Correia de Campos.
Citou a propósito uma passagem do livro escrito pelo antigo governante onde este explica que as medidas por si tomadas na área do medicamento foram «medidas que levaram indiscutivelmente a aumentar a percentagem de desembolso das famílias na aquisição de medicamentos».
Evocada foi ainda uma outra explicação dada no mesmo texto pelo anterior responsável da Saúde, quando este confessa que «a razão mais importante para o alargamento das taxas moderadoras não foi nem o objectivo moderador nem o objectivo financiador mas sim uma preparação da opinião pública para a eventualidade de todo o sistema de financiamento ter de ser alterado».
«Esta é que é a política de Saúde de Correia de Campos», sublinhou o líder parlamentar comunista, que, ironizando, acrescentou que «ouvi-lo a defender o SNS seria quase como ouvir o secretário de Estado dos Desportos Laurentino Dias a defender o ex-seleccionador Carlos Queirós».