Milhares continuam luta pela mudança
Os egípcios estão nas ruas das principais cidades do país para exigirem o cumprimento das promessas feitas pelas forças armadas e a cúpula política que assumiu o poder após o derrube da ditadura no país.
«Removeram o ponto mais alto, mas o edifício ainda está intacto»
Na emblemática Praça Tahir, no Cairo, mas também no centro de cidades como Alexandria ou Suez, milhares de egípcios permanecem inamovíveis no propósito de forçar as mudanças progressistas no território. As acções de massas iniciadas sexta-feira, dia 8, prosseguem com acampamentos e são consequência das crescentes mobilizações populares desencadeadas nas últimas semanas, e da ausência de respostas precisas por parte do executivo interino.
Ainda anteontem, o primeiro-ministro, Esam Sharaf, voltou a anunciar alterações no governo, mas não avançou detalhes nem medidas concretas. Sharaf garantiu igualmente o afastamento dos polícias envolvidos na repressão sobre o povo, em Janeiro e Fevereiro passados, e a responsabilização judicial dos antigos colaboradores de Hosni Mubarak, mas o mandado de captura emitido nesse mesmo dia contra o ex-ministro da agricultura, Yusuf Wali, não foi cumprido pelas autoridades.
Neste contexto, os egípcios não vêem qualquer razão para abandonarem os protestos, com os quais continuam a luta por reformas profundas no país e em defesa da condenação dos dirigentes da ditadura, derrubada a 11 de Fevereiro numa revolta que cobrou a vida a pelo menos 846 egípcios, lembram.
«Removeram o ponto mais alto, mas o edifício ainda está intacto», sintetizou um agricultor que participava numa iniciativa reivindicativa na capital egípcia, ouvido pela Associated Press.
Entre o povo grassa também a desilusão para com as forças armadas. O conselho militar, acusam, em vez de promover as transformações almejadas pela maioria dos egípcios, tem funcionado como garrote à sua aplicação, assim como às alterações que permitam implementar políticas de combate à pobreza e ao desemprego, e direitos, liberdades e garantias tais como o casamento civil ou a liberdade de imprensa.
No sábado, dia 9, quando os acampamentos no Cairo, Alexandria e Suez, cumpriam o segundo dia, a cúpula dirigente divulgou o avanço dos processos relativos a 25 responsáveis pela «batalha dos camelos», episódio violento ocorrido a 2 de Fevereiro, quando altos quadros do regime ordenaram que grupos armados varressem Tahir montados em cavalos e camelos. Mas a apresentação perante os tribunais de alguns dos executantes parece já não satisfazer. Os egípcios insistem numa justiça implacável e célere para os mandantes, e mudanças económicas sociais e políticas de maior relevância.