Organizar e mobilizar

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O início da década de 40 foi, em Portugal, um tempo sombrio, em que a fome, a miséria, a exploração e o obscurantismo marcavam o dia-a-dia da esmagadora maioria do povo português. Aos seus melhores filhos, os que ousavam resistir e lutar, esperava-os a prisão, a tortura, tantas e tantas vezes a morte.

Com a reorganização de 1940-41, o Partido organiza-se para resistir e dar combate ao fascismo. A organização cresce e enraíza-se nas massas. A classe operária luta e assume a vanguarda da resistência antifascista: no final de 1941 os operários dos lanifícios da Covilhã entram em greve; em Outubro e Novembro do ano seguinte, milhares de trabalhadores de Lisboa e arredores paralisam o trabalho; em Julho e Agosto de 1943, sob a direcção do Partido, 50 mil operários (a quase totalidade dos operários industriais de Lisboa e da Margem Sul do Tejo) levam por diante um impressionante movimento grevista; a 8 e 9 de Maio de 1944, na região de Lisboa e Baixo Ribatejo, têm lugar poderosas jornadas de luta, respondendo novamente ao apelo do Partido.

O Avante! dá expressão a estas lutas, apelando, na primeira quinzena de Novembro de 1942, à intensificação da luta, perante a qual o «fascismo salazarista ver-se-à obrigado a recuar (…) É preciso não haver o menor desfalecimento nas acções que os trabalhadores começaram a empreender». No mês seguinte salienta que as lutas reivindicativas «são a verdadeira expressão da unidade nacional do povo português contra o governo fascista de traição nacional».

Na primeira quinzena de Agosto de 1943, a toda a largura da primeira página, salienta-se que «a classe operária caminha, heróica e decididamente, para grandes jornadas de luta». No artigo, destaca-se as pequenas lutas travadas nas empresas, muitas das quais resultaram em vitórias. Na edição seguinte, realça-se que «50.000 lançam-se em greve», naquele que é considerado o «maior advento de massas desde o advento do fascismo». Nas várias páginas consagradas a essa jornada, relata-se o dia-a-dia da luta, as conquistas alcançadas e a repressão.

Em Maio de 1944, o Avante! saúda «as lutas heróicas de 8 e 9 de Maio no baixo Ribatejo e na região saloia», noticiando os efeitos e resultados dessa luta e apontando o caminho a seguir: continuar a luta por pão e géneros e exigir a reabertura das fábricas e a libertação dos presos. No ano seguinte, também em Maio, são as «grandiosas manifestações» de celebração da vitória aliada – e de exigência do derrube do salazarismo – a merecer grande destaque nas suas páginas.

Ao longo da década e, em geral, durante toda a sua história, o Avante! acompanhou as pequenas e grandes lutas dos trabalhadores e do povo, mobilizando, organizando, dando confiança, projectando-as sempre para objectivos mais vastos – vendo nelas o mais seguro caminho para o derrubamento do fascismo.



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