Guerra e paz

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Em 1942, quando Álvaro Cunhal assume a redacção do Avante!, a guerra devorava já milhões de vidas. As hordas de Hitler dominavam grande parte da Europa, ao mesmo tempo que o militarismo japonês avançava a Oriente. A perspectiva do «império dos mil anos» era uma sombra que pairava sobre o mundo, com os campos de concentração, o trabalho escravo e a total submissão de países e povos à «raça dos senhores». A reviravolta, iniciada em Stalinegrado e em Kursk, vinha ainda longe.

Compreendendo a natureza do conflito mundial e a importância do seu desfecho para a luta libertadora dos povos, inclusivamente do português, o Avante! abre uma nova rubrica – «A URSS Vencerá!» – na qual acompanha, número após número, o desenrolar da guerra. Em 1942, o jornal destaca a heróica defesa do exército e do povo soviéticos, ao mesmo tempo que apela à abertura da segunda frente na Europa, que «decidirá a derrota de Hitler».

Num país amordaçado pela férrea censura à imprensa, só o Avante! acompanha, a partir do ano seguinte, a contra-ofensiva soviética. Em Fevereiro de 1943, anuncia-se que «os nazis são varridos do Cáucaso»: «A ofensiva soviética continua em pleno desenvolvimento. As tropas hitlerianas, derrotadas, recuam em todas as frentes. As baixas fascistas são tremendas. Do Lago Ládoga às montanhas do Cáucaso, o glorioso Exército Vermelho assesta golpes mortais nas hordas assassinas hitlerianas.» Em Agosto, já com a rubrica rebaptizada «O Fascismo será derrotado!», realça-se que «O Exército Vermelho esmaga a grande ofensiva nazi».

Até Maio de 1945 – onde anuncia a toda a largura da primeira página «A Alemanha derrotada!» – o Avante!, pela mão de Álvaro Cunhal, não deixa de acompanhar o desenrolar do conflito, as retumbantes vitórias do Exército Vermelho, a libertação dos povos e o seu avanço impetuoso para a democracia.

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Avanços e retrocessos

Calados os canhões, o órgão central do PCP continua a seguir atentamente a situação internacional do pós-guerra, da qual não estava de forma nenhuma desligado o futuro do País. Nos meses e anos que se seguem à derrota do nazifascismo, o Avante! não cessa de valorizar as impressionantes conquistas democráticas nos países libertados, tanto a Ocidente como nos países que constituiriam, mais tarde, o campo socialista. O dia-a-dia da reconstrução económica da União Soviética é também seguido com particular atenção.

Ao mesmo tempo, as suas páginas denunciam o apoio dos EUA e da Inglaterra às forças anticomunistas, incluindo partidos e organizações fascistas, e valorizam a luta dos povos pela sua libertação. Ferozmente criticada é também a protecção dada por esses dois países às ditaduras fascistas remanescentes (como Portugal, Espanha ou Argentina) e aos círculos mais reaccionários de cada país, de que são exemplo o apoio militar aos governos grego e chinês, que combatiam os exércitos comunistas.

Com a chamada «guerra fria», o salazarismo encontrou no seu alinhamento com ingleses e norte-americanos o apoio que lhe faltava internamente – adere ao Plano Marshall e à NATO – e consegue manter-se no poder. O PCP, através do Avante!, denuncia a política de guerra de Salazar e as suas consequências negativas para o desenvolvimento do País, denúncia essa que se intensificará nos anos 50, em torno da luta pela Paz. 



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