Dignidade e resistência
A maioria PSD/CDS-PP e o PS estiveram irmanados no chumbo a um voto apresentado pelo PCP de condenação do Governo português, da UE e do FMI pela «chantagem e imposições contra o povo grego». No texto, acolhido favoravelmente pelas restantes bancadas da oposição, propunha-se ainda a rejeição do «conteúdo do acordo da Cimeira do Euro e a sua imposição» aos gregos, sendo ainda manifestada solidariedade para com estes e para com a sua luta «contra o novo memorando, contra as políticas de exploração, empobrecimento e submissão, em defesa dos seus direitos laborais e sociais, do seu desenvolvimento económico e da sua soberania nacional».
Entre as medidas previstas naquele «acordo», como refere o voto na sua parte não resolutiva, estão o aumento no IVA, cortes nas pensões, privatizações e regressão de direitos laborais e sociais, bem como um «fundo no valor de 50 mil milhões de euros para o qual o Estado grego deverá transferir activos com vista à sua privatização».
O que significa que tal decisão e correspondentes medidas vão em sentido contrário às «aspirações e interesses dos trabalhadores e do povo grego e à vontade de mudança de política expressa nas eleições de 25 de Janeiro e no referendo de 5 de Julho», representando simultaneamente a «continuação e aprofundamento do caminho que levou a Grécia à actual situação de catástrofe social e económica e de delapidação dos seus recursos, património e riquezas».
Nas suas considerações, por outro lado, os autores do voto salientam que as decisões da Cimeira do Euro «são inseparáveis do processo de desestabilização, de asfixia financeira e de chantagem promovido pela UE e FMI contra o povo grego e suas opções soberanas», processo esse que entendem ser ainda revelador da «natureza política e objectivos da UE e das profundas contradições e crise de legitimidade com que se debate».
«Um proceso que comprova que as grandes potências e os grandes grupos económicos e financeiros utilizam os instrumentos e orientações da UE e do euro para intensificar a exploração e a regressão de direitos laborais e sociais, para afrontar a soberania e independência nacionais, para impor o seu domínio económico e político – o que coloca em evidência que a UE da "solidariedade" e da "coesão" não existe», lê-se no voto apresentado pelos deputados comunistas.
Depois de classificar de «inaceitável» a postura de alinhamento do Governo de Passos e Portas com as imposições da UE e do seu directório de potências, o texto sublinha por fim a necessidade de opor aos «condicionalismos, constrangimentos, imposições e chantagens externas» uma «postura de dignidade, de resistência e de rejeição», «em prol de políticas e caminhos alternativos de justiça e progresso social e de desenvolvimento soberano».