Concertação mediática

O Parlamento discutiu na última sexta-feira um conjunto de propostas de alteração à legislação laboral: por um lado, as medidas acertadas pelo Governo com as confederações patronais e o beneplácito da UGT; por outro, a revogação de algumas das normas gravosas do Código do Trabalho, como a facilitação dos despedimentos e o corte nos dias de férias, nomeadamente por proposta do PCP.

Pelo alcance que podem ter na vida de tantos trabalhadores, tanto pelas possibilidades de ainda maior generalização da precariedade e desregulação dos horários de trabalho que introduz como pelo que deixa intocável – principalmente no âmbito da contratação colectiva –, mas também por marcar uma inversão de rumo na reposição e conquista de direitos, o acordo entre PS, patronato e UGT mereceria toda a atenção mediática. No entanto, para quem nessa manhã assistiu aos fóruns com que rádios e televisões abrem a sua antena, o tema do dia era outro: a proposta do PAN para proibir de imediato as corridas de touros. Os jornais não ficaram para trás e o i foi o exemplo mais gritante. Dois terços da capa e 13 páginas dedicadas à tauromaquia, uma linha na capa e uma página à lei do Trabalho.

Sendo certo que as touradas são tema dado à polémica, com opiniões divergentes e discussões apaixonadas, o tratamento mediático que a proposta do PAN mereceu – com uma entrevista televisiva ao seu deputado no dia anterior – não pode ser sequer aproximado ao que está em causa nas alterações que o Governo acertou com o patronato. Não numa sociedade que se diga humanista e que valorize o trabalho – quando estarão em causa regimes de precariedade sem fim (com o alargamento do período experimental e dos contratos de muito curta duração), os bancos de horas com 150 horas de trabalho extraordinário gratuito por ano, ou a criação de uma taxa de rotatividade que legitima a precariedade.

As televisões aproveitaram os fóruns dedicados à tourada para assumir uma opção que é tão editorial como de classe e ignoraram a concentração de milhares de trabalhadores promovida pela CGTP-IN em frente à Assembleia da República.

Ao agendar o debate sobre a proibição das corridas de touros para o mesmo dia em que matérias de tão profundo alcance, o PAN deu um contributo inestimável para que os média, mais uma vez, tenham faltado ao seu dever de informar. Curiosamente, a abstenção do deputado do PAN na votação de quase todas as propostas do PCP não foi notícia.

DN exclui PCP

O Diário de Notícias em papel deixou de ser diário, e, com esta alteração, o jornal mudou também o espaço de opinião da sua edição, agora ao domingo. O DN era, até então, o único jornal nacional generalista (em muitos anos) com um artigo semanal de um dirigente do PCP. A passagem para o digital e do papel para uma edição semanal trouxe uma ruptura que não deixa de ser de assinalar: na página reservada a dirigentes partidários, cabem PS, PSD, CDS e BE. O DN pode apresentar-se como novo, mas foi buscar os critérios ao relicário da discriminação e do preconceito anticomunista.

 



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