Controlo público é a única solução para serviço postal português
NACIONALIZAÇÃOO PCP realizou o encontro «Pelo controlo público dos CTT ao serviço do povo e do País», onde auscultou diferentes organizações representativas dos trabalhadores dos Correios.
«Os CTT chumbaram em 23 dos 24 indicadores de qualidade»
A iniciativa tomou lugar no Centro de Trabalho Vitória, Lisboa, dia 30, e contou com a presença de Jerónimo de Sousa.
A sete dias de serem assinalados os 500 anos dos CTT, o PCP aprofundou o seu conhecimento acerca dos problemas da empresa, outrora pública.
Ao longo da sessão foi possível detectar o agravamento de muitos problemas resultado da pandemia, mas também os retrocessos e degradações provocados pelo processo de privatização da empresa, finalizado em 2014.
Na sessão dirigida por Manuel Gouveia, membro do Comité do Central do PCP, para além de Jerónimo de Sousa, estiveram também presentes João Frazão e Armindo Miranda, membros da Comissão Política.
Destruição de serviços e direitos
Vítor Narciso, Secretário-geral do Sindicato Nacional dos Trabalhadores de Correios e Telecomunicações (SNTCT), foi o primeiro a usar da palavra. O processo de privatização dos CTT e as consequências deste processo para os seus trabalhadores, esteve no cerne da sua intervenção.
O encerramento de estações e postos dos CTT e a consequente retracção na prestações de vários serviços, foi uma das principais repercussões. O raio de entrega de correspondência e os percursos alargaram-se, aumentando, também, as horas e o esforço dos trabalhadores. Da mesma forma, a prestação de serviços aos utentes tornou-se mais lenta.
Segundo a estimativa do dirigente sindical, encerraram-se 385 estações das 924 que existiam. Este processo, que atingiu sobretudo as zonas mais desertificadas do País, contribuiu para as já assinaláveis assimetrias territoriais.
«Os CTT tinham o selo de confiança dos portugueses», começou por dizer José Oliveira, membro da Direcção Nacional do SNTCT. «Agora, quase a fazer 500 anos, os CTT perderam isso. Os direitos dos cidadãos deste País não estão a ser acautelados», completou.
Para o dirigente, as directivas europeias responsáveis pela abertura do mercado europeu de correspondência postal à competição privada, no qual se inclui o mercado português, encarregaram-se da «abertura para o fim» e de fazer o «caminho para a privatização».
Jorge Neves, da Comissão de Trabalhadores dos CTT, afirmou, por seu lado, que a «nacionalização dos CTT tem de acontecer, mais tarde ou mais cedo». «Quanto mais tarde, piores serão as consequências, nas quais, o Governo de PS também terá muita responsabilidade», afirmou, dando o exemplo do município de Nisa, onde os direitos dos cidadãos «estão a ser delapidados».
Antes de Jerónimo de Sousa concluir a sessão, o Banco CTT criado na sequência da privatização foi abordado. A sangria de dinheiro dos CTT tem sido um dos principais meios de subsistência do banco privado, realçou-se.
Recuperar elemento de confiança
A encerrar a iniciativa, o Secretário-geral do PCP começou por lembrar a história centenária do serviço posta português.
«Portugal dispunha de um serviço público que satisfazia as necessidades do País (…) e ainda entregava uma receita regular ao Orçamento do Estado», afirmou. «Este serviço público também despertou a gula do capital privado», dacrescentou.
Hoje, a qualidade do serviço postal degradou-se: em muitas localidades deixaram de existir distribuições diárias; as cartas não chegam a tempo; os trabalhadores são cada vez menos e cada vez mais explorados e o serviço ficou mais longe do acesso de muitas populações. «A situação só não é pior graças à enorme dedicação e esforço estóico dos trabalhadores», sublinhou Jerónimo de Sousa.
Para o PCP, a resposta necessária é «avançar para a recuperação do controlo público dos CTT», como ainda na semana anterior o Partido voltou a propor na Assembleia da República.
Em vez de uma empresa que procura «garantir lucros e dividendos aos seus accionistas», os CTT têm de ser «um instrumento insubstituível para a coesão social, económica e territorial» que deve contribuir para o «desenvolvimento harmonioso do País», insistiu o dirigente comunista, concluindo que da parte do PCP, podem contar com vontade política e persistência nesse objectivo.