A vida dá razão ao PCP na defesa da soberania
INTERVENÇÃO Chamar a atenção para a necessidade de reconstruir elementos fundamentais para o desenvolvimento soberano foi o objectivo de uma visita que Jerónimo de Sousa fez anteontem a uma produção de trigo.
Temos saber de experiência feito e outras potencialidades
O PCP levou ontem a plenário da Assembleia da República, em agendamento potestativo, um debate em torno da urgência de garantir a soberania alimentar e promover a produção nacional. E foi no quadro da afirmação dessa proposta, que o PCP sustenta há décadas e cuja justeza o actual contexto veio relevar, que o Secretário-geral do Partido se encontrou, no Cadaval, na manhã de terça-feira, com o produtor João Vieira.
João Vieira e a sua batalha de sempre pela viabilidade da agricultura sustentável, ergue-se hoje como um reduto de razão e sanidade num País que foi conduzido, pela política de direita vassala dos interesses da agro-indústria, a sacrificar a sua soberania alimentar.
No caso da produção de trigo, explicou à comitiva comunista, a capacidade e potencialidades nacionais foram propositadamente arrasadas com a destruição da Empresa Pública de Abastecimento de Cereais (EPAC), sem a qual os produtores ficaram impossibilitados de preservar o grão e Portugal ficou dependente da importação de trigos.
Mais, detalhou João Vieira, a compra ao estrangeiro deste bem essencial faz-se sem consideração da existência de alternativas autóctones, melhores quer do ponto de vista nutricional e ambiental, quer para a «saúde» da nossa balança comercial, o que não é de somenos importância.
Avançar
Com efeito, o «velhinho» trigo barbela, que João Vieira planta para autoconsumo e para sementeira de produtores que o têm solicitado, em nada fica atrás de outros que mandamos vir às toneladas por ano. Pelo contrário, o barbela não exige agroquímicos e tem um valor nutricional superior, para além de ser mais resiliente.
Para avançar neste caminho que o PCP sempre defendeu e que ganha um número crescente de adeptos entre as gerações receptivas ao resgate de modos de produção capazes de preservar o equilíbrio com a natureza, é preciso reconstruir «uma EPAC», sublinhou João Vieira.
Jerónimo de Sousa concordou com a necessidade de voltar a ter capacidade de armazenamento de cereais, bem como de outros investimentos públicos no quadro da reconquista da capacidade de desenvolvimento. E no caso da soberania alimentar e dos cereais em particular, realçou que só cultivamos trigo para duas semanas num ano, quando, na verdade, temos saber de experiência feito e outras potencialidades.
Daí, acrescentou o Secretário-geral do Partido, a oportunidade do agendamento do debate de ontem no Parlamento (ao qual voltamos na próxima edição), e, sobretudo, a validade da proposta comunista de recuperar fileiras produtivas abandonadas, para proteger Portugal de sobressaltos, promover o emprego e combater défices, incluindo no domínio alimentar.